segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Contradições

Ela sentira o peso do mundo forte e denso sob seus olhos,
num céu sem estrelas.

E a transparência desses astros
se iluminando no frágil aguado das lágrimas,

tremulando as saudades que os nervos estiram também.

Uma linha abaixo do corpo, da massa física de destino dado.
Uma linha na terra consumida, consolidada no tempo,
uma vertigem das impressões que um sonho deixa,
marcando o rosto.

Uma linha bem abaixo.

Tênue.


Uma depressão.



"(...) exclamações contidas doíam no seu peito estreito; a in­compreensão árdua e asfixiada precipitava seu coração no escuro da noite. (...)

Ela já fora viva, com pequenas resoluções a cada minuto — brilhava seu olho fatigado e colérico (...)''


E nada se explicará tão cedo.
Nenhuma palavra sob as linhas.

... Que não seja o contorno do leito.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Plataforma

Essa vida é de tanto desgaste, que sequer interpreto como mistério visar entre a corrente dos dias, a grandeza do desconhecido; é a apatia mediante o inevitável, mecanismo da chave que só abre as portas dos sonhos, para criar ilusões.

A plataforma ressoa com força essas vibrações todas nos veículos ecoando milimétricas escalas de horários, o caos organiza-se enfileirado, e mediante as paradas metálicas, os espermatozóides explodindo em vida que não quer ser desperdiçada. Correm contra o tempo, e na sua medida, todas as conveniências para comportar o social aceptível.

E daí as pernas pendem tortas e hilárias, os esforços fastiantes do inútil já revelado: se eu, aqui, parada observo, e por mim os ponteiros lentos se encaixam e não param, porque nessa correnteza cega hei de me arriscar correndo nesse solo bruto, como quem passa no fogo e lento neutro-tom explodindo no frio da noite, correrei à matriz que passa igual a todos?


Quem? Quem? Quem vai chegar primeiro?



Cedo ou tarde não se diz quando se vive.

(Texto encenado no ''Clube dos Desgraçados", em 30.08.09)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

''Velório sem defunto'' e o defeito do cortejo num grande lamento

-Ah eu já sabia que era triste... sempre fui.
Assim que nasci, me tornei.

E quê fazer? O acaso do mundo não me resolve, apenas aponta a realidade, e aqui estou de mim por ela, ela não faz nada por mim.
Eu que sou triste me decepciono com a alegria que vêm e passa, voltando a ser triste, ao que realmente sou.
E que no fim não é defeito, é minha essência se descobrindo melancólica, nublando os cabelos e aguando olhos, não fugindo do que a natureza pode ser.
O grande vazio é que a vida me contornou a querer, e já não querendo ser triste eu fujo de mim e vou querendo...

Eu já não sei, e me calo. O coração pulsa, e dizem por mim, para que seja de ti, também:

''(...) a tua cabeça está cheia de borboletas estrídulas
(...) E, na verdade, o que eu tenho, é uma alma de violoncelo
- grave, profunda, triste...''

( Um desbotado pierrot.)

sábado, 17 de outubro de 2009

a traição.

Uma rendição sem versos pra lhe dizer de novo que o mundo é cruel e a sua ingenuidade não tem espaço entre o tempo que corre e a lágrima que escorre; o instante-já é uma gorfada, a desistência um embarque, e logo a entrega tola de uma vítima cega;
na claridade de novo, a sombra da escuridão... vindoura do próprio corpo: ela.

Olhar no fundo dos olhos e não achar o chão, porque o ceticismo sabe que não. Porque o medo apavorou até as flores e trouxe o calor, não, não o trouxe, mas é tempo dele; e vem uma chuva sem pés para sustentar o caminho, encharcando tudo, escurecendo o porão do quarto de mofo, tão sujo naquilo que é novo e nostálgico.

Os sonhos embrulhados numa sensação ruim, e AQUILO, de novo.
A fonte dos pensamentos fundida em dor.
De novo o medo.
E a medida transcendendo a realidade para o que é difícil e não se sabe explicar.

Nao há.
A confiança é experimentar. Os riscos corroendo o tempo pra dizer o que não se sabe,
e o que haverá de marcar muito o compasso pra responder com calma e na hora certa o timbre correto e vivenciar o que Ela é
e todos são: palavras.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

E. violetas crescendo paredes

Nas telhas o sol se esgueirava como quem entrega-se esmiuçado ao cansaço de corpo inteiro, e deixa o brilho refletir aos olhos frágeis a brutalidade de um brilhar, na sua vista pouca pelos que se poupam de arriscarem-se ao contemplar. A casa desse limiar confunde o horizonte no seu azul tão profundo, na sua construção edificada com tanto carinho na arquitetura aconchegante e chamativa para a vontade de deixar-se estar, na vontade de abrigo.
E. o trânsito caótico expelindo a fumaça cinza da máquina, o negrume do vidro que reflete também rostos abatidos, e além dos olhos a janela daquele lar, aquele cinza no imenso azul, no oceano infinito e transgressor do habitual, oferecendo grandes, grandes ondas, ainda.
E. um olhar tão vazio. Uma dor que não se explica mas é funda. Uma pérola que brilha sôfrega no olhar distraído, desmedido do que não diz encomodar, mas é força da vida, e uma hora enfraquece a fibra, bem se sabe. E. seus jeans dessa mesma cor. E. o que não se esquece, o que não se esconde em plena luz, até a própria escuridão. A nudez nos mínimos detalhes, E. além dos cortes da moda. E. das limitações pudoradas. E. dos livros que mentem pra deixar aliviadas as mentes que ousam a pender saber que pensam e pensar é um crime difícil de ser digerido com liberdade. E. umas palavras proibidas que saem da boca sem significado, mas assustam quando são verdadeiramente ouvidas. E. não se poupa da estupidez mas se abarrota em ignorância. E. rufam os tambores no relógio, mas não se ouve mais. A hora soou na campanhia que foi assinalada nos dedos que imperceptíveis tracejam o destino.
E assassinou o gelo do olhar com o bafo da porta se abrindo E. o corpo descendo, desestruturando degraus que não são glorificados como podium, mas lhes coloca no mesmo patamar...

Quê adianta não ser E. se parecer? Se confundir pra fazer de conta que está valendo o próprio desperdício com suficiência. E. meu deus, as preces não valem os crucifixos.
A noite chega e as estrelas não se escondem, nem a poética da veia sob o repouso. E. adormece-se na pílula multimídia do tempo colidindo com as imagens reais. E. pernas fracas. E. corpo estendido. E. o que não se cuida mais, se calcifica n'outro dia.

E. ...

domingo, 23 de agosto de 2009

O dia

Pisa a calçada que antecede o portão e se pergunta se naquela morada é a prosperidade que deseja de si nos próximos dias, desencadeada na grama cortada mais bonita, no cachorro ao muro, no concerto da vida se esgueirando às plantas crescendo e o musgo produzindo som lento aos ouvidos; a chave não entra porque há do outro lado uma idêntica.
Outro alguém lhe abre a porta, a água desce-lhe a garganta, e passos poucos valem o caminho; nenhum rastro: o tempo secou e os pés estão quentes na meia-vida.
Um entremeio de novo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Aguardo

Porque sentia-se febril de novo, na cidade descascada de esperança, há muito tempo. Do tempo mesmo que se calcifica lento, sabendo que a chuva vai descalçar a coragem e vai chegar derrubando tudo, invadindo ruas e casas deixando solidária a pena de quem nunca fez nada por si, e põem-se vítimas enfileiradas nas doações públicas. Na parte que pode ser pública.
Dos que se esforçam por ser, desesperadamente gritando vida no peito, na estampa da camisa elástica e bonita do corpo em seus reparos. Do corpo superficial e idêntico, a massa espalhada, nas vitrines e nos espelhos; uma transparência duvidosa quando não é da parte de dentro.

E o tempo úmido rememora o presságio do seguinte verão, do seguinte sufocamento da aurora laranja, da aurora linda e flamejante, mas consumista da beleza por cansar os olhos de suor e de castigo. Amolesta os ânimos no clima abafado, no gemido abafado, mentindo, escondendo, no abafado das mãos abanando a si mesmas pela sensação abafada, pelo sufocamento no ar, respirando fundo, temendo o medo do próprio cansaço, fingindo refrescância nos hálitos aromatizados e putrefados, ah putrefados dos seus vícios querendo ser virtudes, das flores nos canteiros cheios de bosta.

E se afastam das palavras ríspidas, fogem, mas não vão se proteger. Não vão adquirir cascas descascando frutos e os consumidos, rosados e saudáveis, não irão ser mais orgânicos ou respeitáveis adotando-se métodos em série, não irão construir escudos na noite embriagada do seu inútil. Porque não há o que lutar, não há inimigos desde que não se ponha contra si mesmo. Desde que os limites não lhe encurtem os horizontes, desde que se aceite a própria grandeza, e não se abafe o choro pedindo o carinho que precisamos para ser fortes. Não temendo a união que pode ser mesma ao silêncio, mesma a empatia do ser que se conhece, e não se supõe em obviedades de comportamento mecânico. Não existe a infidelidade para quem é leal a si mesmo. Não existe a culpa para quem aprende a perdoar. Não existem barreiras, pra quem quer começar de novo.

Porque ela estava ao sol, e sozinha. Distante.

Notória ignomínia escaldando o rosto de verdades demais,
tamborilando dedos insolúveis e cansados.

Uma sinfonia entoando ecos, procurando harmonia.

Foto: Tati Plens

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A ordem que não condena

O dia cinza dominou-se curioso pelo calor que vez abrupto estranhamento até chover. Carregou os olhos amargos dela, e o súbito punhal no seu coração movimentou-se pelo coração que faz força para resistir; o punhal estanca a correnteza de ser mais um dia. Mais um dia menos difícil.
Move-se com solavancos de súbito desespero, de repente o coração se repara no seu ciclo e o tempo desmorona lento e a calma estabelece o raciocínio. Volta-se o medo, os olhos se fecham. E se partem, um desassossego que quer fazer entender, mas não vai explicar. A noite que ela quer pra sempre, pra não precisar enxergar os pulsos vívidos pedindo o fardo para serem encorporados além da fonte de si mesmos. Não o fardo, mas os fatos pra provarem a resistência, de que ela é forte. E só perece com a coragem guardada, pulsando insuportável e vagarosa, no pensamento.

É de sentir a valia da intensidade. Ali está ela. E já não há como negar o momento. Há a coragem. E a vontade. Há os personagens e o tempo. A chuva molhando a terra, o cheiro provocando sinestesias. As roupas marcando o corpo forte. A tendência da vida difícil, mas pra ser completa.
Porque ninguém se enche de vazio, porque ninguém morre da fome por fraqueza de braços. Porque ela ainda acredita, ela acredita, ela ainda, ela, ela... até quando uma segunda pessoa?
Singularidades que não se repetem.
You see, it's not a reprise...

E ela também.

A ordem que não condena, complementa. A melodia que espera a harmonia nos seus atos.

Nas mãos as notas circulando, no céu o ar denotando a fome das nuvens, pelos mortais sua consideração existindo.
Quem dirá que é de longe que deve vir uma conclusão? Nenhuma ordem para a selvageria engolir a saliva e dizer o que se precisa. E o que não precisa, mas se sente.
Sente.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Do fundo da boca

As barbas da árvore pendiam sob os galhos novos e fracos largando a eternidade do que conhecemos nascendo biológica, como próprios fios de cabelo.
Ela fechou os olhos como quem suplicava e não se ouvia, mas os cílios contornavam seu perfume na gota de essência de lágrima que queria se tremular, ali. De fato pediu força, comprimiu seu peito e sentiu o órgão se avolumando no próprio som, ele tão gigante e belo.
E nas suas próprias deficiências, passara a própria força que mostrava-se resistência, a fúria de uma borboleta destituindo-se, espalhando cores por aí.
Do crepúsculo insolúvel e inegável nos horizontes de seus próprios sentidos, no fim de cada dia, o foco principal como ponto-e-vírgula que nunca se calam nela, e na própria palavra não têm fim, porque ela é gosto, e dá fome, é da saliva, ela não toca - ela expande, e alarga os lábios e preenche o espaço quando ele fica completo de novo.

Eu só sei que pelos cílios fortes e sutis que ela regara como arara de cada instante, naquele momento se voltavam em curvatura ao chão, e nos olhos perfeitos a cor, e a submissão do mais querido, sem querer.
E assim que o furacão passou em câmera lenta, trazendo o vento ao longo das horas, ''e aos sorrisos, as notas de perdão sem precisarem ser ditas, braços estendidos e significados tantos nascendo e existindo dos instantes que não se contêm: são preciosos exatamente por isso''.

As estrelas perfuraram o céu, a névoa chamou o cálido aos poros num arrepio e o claro suspendendo o óbvio deixou no mistério a vontade de não-perder (não mais uma vez) - sem trauma, sem palavra, à língua que jura o entendimento insinuando-se, vertiginosa e duvidosa; como marca para adotar o indizível sem narrar o convencional.
Ela só pode ser pura e honestamente revelar a condição que, preferia putrefar os dentes, que tirar aquele gosto, da boca.

domingo, 26 de julho de 2009

Imag/in/ação

Ela chegou ao portão, ouvindo seus próprios passos durante o percurso, ouvindo atentamente a superfície do chão. Habituou os olhos a familiaridade da casa, e pelas horas, percorreu os hábitos - fácil estranhou o silêncio de tudo tão dormido, e a luz do quarto acesa, mas sem alarde - abriu o portão e adentrou. Destrancou a fechadura, tudo calmo. Andou até o corredor, luz do quarto penetrando o chão nesse limiar mudo, ouviu um som vivo demais pra ser coisa qualquer. Franziu a sobrancelha e sabendo que pensar não resolveria, caminhou até seu próprio mistério; chegou mais rápida até a porta, e viu. pôs a mão esquerda no batente da porta, segurou a alça da bolsa, com ternura olhou e titubeou, não acreditou, e os olhos percorreram: ele estava lá, sentado na cama.
Os olhos dela inundados da água da garoa e do transbordamento de si sorriram nos lábios dele, largos e lindos - transparentes na saliva, saciaram-se. Nenhuma palavra alimenta a alma em tanta sofisticação quanto o consentimento. E assim não foi necessária.

As mãos se encontraram, no relevo do corpo o saber eterno, o mistério que só se descobre na entrega e no mais profundo abraço. e de suspiro o alívio, e o inacreditável na fome e na busca.
As mãos atingiram o peito, mímicas de poros que se conheciam bem demais. Fechos abriram-se sem pudor, zíper deslizando, e os botões desabrochavam as flores nascendo, rosas e fundas, tão eternas na primavera que chegava cedo; mas eles já esperavam.
Afinal,
nenhum relógio passa o sentimento, tão menos o perdão pra ser vivo, pra acometer-se da entrega latente demais pra deixar encolher no frio o brio da realidade...

Adora-se o sonho e sua névoa em duas partes, dois corpos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

(Des)acessos

Ela despertou. Uma corrente súbita e imensa percorreu-lhe o corpo todo em um segundo. Os olhos quiseram abrigar-se para enxergar, mas não podiam ver. Então não. Segurou as pálpebras. Respirou o mais fundo que pôde. Sabia que era a vida entranhando-lhe os ossos. Os poros confirmavam arrepiando-se querendo entrar mais fundo ainda na pele, arrepiando-a de um cansaço desde o começo. Estiram-se os nervos de todo o corpo e doem na ponta dos dedos - justamente neles, parece que pelos mesmos, sempre haverá o que dizer. Deslizou o corpo do dia pela cama, tão confortável no momento antes de dormir estava, que podia sentir o calor apenas do seu corpo encobrindo a pele do frio, trazendo lento para o cansaço o alento, no mormaço que pouco a pouco lhe esvai de forças e recorre ao sono. Viveu nitidamente aquele instante, tentando alongá-lo com pensamentos distantes, provocando até o incômodo que naquele instante de luz apagada e corpo brando, aonde feiche para entrar nela não haveria - o embrutecimento irônico da sua fragilidade mais intensa.
Foi esta a conexão que conseguiu do tempo curto passado antes de despertar, lembrar. E surgiu como esperança qualquer para viver um novo dia e subtrair-se no cansaço e na mágoa, para num instante antes de dormir, devolver-lhe um repouso que há tempo (meu deus, seis meses!) seus débeis nervos não permitiam-se tão fáceis.

O exercício das pequenas coisas enrustidos nas muitas maiores vontades que aquele peito suspirando desgaste falava, era sem o troco da voz; outro vocábulo ecoava no teto, caindo da abóbada celeste; gotas de chuva minimizando-lhe a disposição de devolver-se a mais um dia longo e difícil, mas ainda mais curto é o período pra si, se negligenciar seus próprios contos; de honestidade e desapego ela sofre pelo mundo que sopra vazio entre os dedos, e compreende, de um conteúdo excecrado de si mesma, nesses (des)acessos.

Deixou o coração palpitar forte outra vez. Fez-se desvencilhar do instante de perda instantânea da capacidade de dormir tão mais que se pede o corpo, (querer então) no inconsciente flutuar e conhecer-se do sonho tão-somente e deixar o tempo vivendo-se entre o mundo e as estações inexplicáveis do mistério da vida - e assim que ela voltar, anos mais tarde, quem sabe (meio ano... voou!), e ver como estão as coisas, e olhar para si própria e conectar-se à realidade além de um vão de espera e migalhas da benevolência de uma divindade (que não existe) qualquer.

Quem sabe, se pudesse... essa manhã não seria no seu cinza e no seus traços vagos, a esperança do sol em seu circuito laranja e vivaz, não haveriam lembranças e suas vestes, e bilhetes não-escritos entranhados na língua que saliva solitária e esbarra clamores nas paredes - que já revelam no mofo e no cheiro, o hálito e o teor da fala. O puro descontentamento a dar-lhe sinais de emergência que no seu estado, já não encaixa-se em excessos e erros consecutivos, é uma densa espera amadurecendo nos seus olhos - verdes como a esperança de um escafandro que há de desvencilhar-se da própria crosta, e na sua natureza revelar-se livre pra chegar ao próprio lugar.
Pudesse ser hoje, tão mais simples. Mas o dia persite em nascer nos seus signos relevantes de conta própria para revelar os mistérios que nunca foram ditos além de critérios de espíritos inquietos.
Por isso um tom a mais no tamborilar de seus dedos, na percepção da pele demasiada sensível - o troco, do que dizer enrolando os vínculos respectivos que conduzem a vida sem entender, mas jorrando nas explicações as sinestesias, do que só pode transformar o ser que transfigura-se na sua condição eternamente fértil, de viver.

09:21h

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O pra sempre que eles não aguentam, aguardam.

A pele alargou-se ao ponto de estourar quando ele foi para o outro lado e ela ainda viu-se conectada à ele. Assim ele prosseguiu esticando a pele dela, e ela se esfolando viva, na carne exposta do desejo mais profundo... fazendo desenhos com a própria veia, enxergando-se de dentro como nunca antes vira.
A dor tamanha dissipou a vertente do corpo,
o coração passou a pulsar por tudo.
Não havia como discernir de si a dor pra resultar a vida,

e ele vai andando... hoje como passado não exatamente,
mas como presente negado do privilégio de não necessitar fatiar o tempo pra (com)prometer o seu sentir; ele vaga entre becos, ela pouco a pouco vai renovando a pele para também não o machucar com o fato, de que a sua sombra sempre está atrás - desde quando ele assumiu a existência na vida de mais alguém.

A segurança disso é uma verdade que ninguém vai tirar
- e quando mudar, duvidar-se-á da vitalidade do mesmo
E se agora não é a veracidade que vai tocar-lhe
a consciência além do vento nos cabelos,
ela vai cantar para chegar nos ouvidos dele...
e mesmo que prossiga
Ela sabe que como hoje,
o fato vai percorrer sua pele em mais um dia,
nos olhos que se abrem; a consciência se espalha,
e pelo fato, de novo,
as costas se curvarão como seu peso, um fardo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Íris

O olho está cansado de olhar o espaço e ver demasiada a falta daquilo que não está.

Ilustração por Luna

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cantatrice

Para compôr a estrela dessa luz toda, sem utilizar teus dedos a complementarem a força de minhas mãos, vou te pôr nas palavras ao vento jogadas todas as vezes que sussurrei juras ao teu nome em solidão, eu sei que chegam rajadas aos teus cabelos, nestas noites tão frias em que teu corpo é todo o acalento de uma alma que não se saceia, e não vai ao teu encontro.
Eu te vi passar de longe, e notei a sintonia de teus movimentos tão desequilibradas na tua velocidade e a minha lentidão, porque foi tão vazia a conversa alheia a disfarçar que eu te esperava - mas sem saber, que iria te ver partir antes de me tomar; daí que arrebatastes o meu tempo pra contabilizar noites e dias, tampouco tempo pra passar e não dissipar que eu quero te dizer, te cantar, te vibrar nesse amor de pouco gozo e muito tremor...
Teu corpo me fere de tuas lonjuras, alcanças-me distante e eu te entendo estrela, de um céu, um céu que está entalado na minha boca - e a garganta que não pode ser tão profunda te profere, num silêncio que só a alma de anjo saberá decifrar.
E assim é raro o encanto de te compreender! tu lá longe, tu tão inspirador, tu tão latente em mim me faz observar que nesta estação,
a fumaça que exala de tua boca é expressão do tempo que se encaminha - e sei que, todo espaço é céu quando sopras.

domingo, 14 de junho de 2009

Ondas monumentais

Ela voltou pra casa sentindo o frio causando calafrios nas suas mãos ainda que cobertas por luvas - cada dia sentia mais.
Fechou a porta e aconchegou-se na potrona, observando o espaço, procurando o lar naquele lugar. E os olhos pousaram sob a estante, o cd das músicas que ele fizera estava lá - então ele voltou. Mas não permaneceu. Apenas o cd. O cd com suas canções para fazer etéreas as lembranças do frio, do tempo, do vento, do dia sem bilhetes e sem amor pra consumir nos braços; sem amor pra entender o gosto do frio queimando a língua assim que de nós sai vapor. A falta pra consumir o silêncio sem risadas, a cama desarrumada e o cheiro de mofo daquilo que se usa só pra condenar o tempo que nunca passa no que é comunal.
A rotina lhe doeu tanto que só pôde chorar. Só chorar e sentir a lágrima secar, a ponta do nariz ficar gélida, a mão ainda mais estática. Não tocou, só olhou pra lá. Já não quer mais frio. Não aguenta mais intensificar o tom. Não é a dor da estação, mas é a falta de uma presença.

O frio lhe deixa quente por dentro. Por dentro a latência lhe responde que a vida é puro foco de luz, cadente estrela - um tombo pra riscar a atmosfera com seu próprio tamanho e transfigurar a verdade pra realidade.
Afinal, se em tudo o que faz é só lembrar e viver por isso que consiste, não é vazio, e não haverá vácuo para consumir essa história toda se o que sempre volta, é o som.

sábado, 13 de junho de 2009

Terremoto

Uma folha aberta, um coração pulsando rápido demais para tornar-se plausível em gráficos caligráficos.
É tudo para um mundo estranho e ruim, que traz agonia na palidez de um campo vasto com mãos pequenas que querem muito dizer aquilo que a cala.

Aquilo que está explodindo de dentro, cheia de fragmentos mundo a fora: mas nenhum encontro.

Nenhum rastro que ainda que pegasse caminhos alternativos e colocasse seu olhar aonde normalmente não há colírio, estava lá. Porque necessariamente esse encontro não seria de alívio, mas tornou-se uma necessidade. Nada obsessivo, necessidade mesmo - assim como quando a boca sedenta se atrapalha nos próprios movimentos quando sente a água a purificar as vias de vida plena: toda e completamente estava jorrando, querendo um leito para seu manancial - e ele é a encosta.

É mas não está. Ela corre, mas ele é horizonte distante.
A loucura não se aproxima, mas o desespero toma conta. Não tem pra onde fugir. Sorrisos causam boas-vindas,
ela só quer sumir.
Um terremoto urgindo sob seus pés calmos na rua vazia. Vazia demais pra alguém ver o tamanho dessa dor, entender que é mesmo amor.

E nenhum sorriso, nenhum passo, gentileza, conforto, desagregação de conteúdo faz o coração parar e nem o vocabulário se dissolver. Lá fora é frio e o vento não surge para levar a folha embora; até porque a impressão é muito mais que cisco para o espaço - é um risco tão profundo que a epiderme responde encolhendo-se no arrepio, como flor na terra pra nascer.

Terremotos em limiares tão sublimes que o instante das próprias horas não se revelou na própria falta. É a fenda da parte de dentro.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Do mais profundo, ela que disse:




Eu quero fazer teu bolo de aniversário, e te cantar com um sorriso
nos lábios tão imenso quanto meu amor,
tamanha plenitude é todo coração.


Mon petit.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Contaminação Urbana

''O tempo que faz sintonia entre teus cabelos,
afina os caminhos tocando trilhas
que na minha cabeça,
gira, gira, gira...

Assopra a vida e tudo vira, música...''


Mais?!
:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

sentidos devoram lógicas

beber
vou engolir quantos litros mais de desilusão pra deixar o tempo passar
e doer mais um pouco a tua falta que nem mesmo faz com que a tua ausênca esteja aqui?
tu sumiu e teu pensamento sempre volta
notícias... és deveras parte do meu mundo, -não te partas!
+
sentir
sozinho .....mais ........quero
............não......... estar
+
engolir
esta noite maldita me faz rasgar o remedo desses últimos dias de alento estranho,
estágio de esquecer pra improvisar o suicídio do meu vital
+
deglutir
eu não quero
assim que eu te desejo
eu desejo que acabe
o que machuca
e não o que quero.
_____________________________________

é tu que me falta, nesta conta toda.

produto final: noite sem estrelas. e eu cega... cega da tua luz?

domingo, 7 de junho de 2009

Muito além de todo o mais

Um corpo estirado a frente do outro.
No caminho aonde braços se encontram. E as mãos deslizam perenes a descobrir que o calor é suspiro para o poro arrepiado de frio,
assim o carinho faz intenção.
E resguarda a proximidade como o instante propício para encontrar olhares, desviar adiamentos.
Abaixam-se de novo os olhos, movem-se lábios. E insistentes, sorrisos se cruzam com um leve estalido de lábios surgindo para o parto do riso de que sabe-se sem dizer, à beira do silêncio do frio a acalentar o encorajamento para viver.

Tantos riscos emaranhando-se nos cabelos entre os dedos, as mãos encarregadas de contar essa história que ocorreu com tamanha precisão ao tocar a frente do corpo e enovelar-se profundo em cada sensação pra degustar do todo, a prosseguir, tentar dizer.

Suspiros e encontros; encaixam-se na boca com as linhas decorrentes na formação do corpo,
saciando a vontade com a curiosidade de devorar os sentidos na brutalidade da matéria,
transformando o nu em visão de diamante.
E percorre, pra não esquecer; uma vez de tantos instantes pra dizer com cuidado
que o prazer é um novo sorriso guardado no abraço de tão mais carinho que o corpo
expele no seu leito, jorrando a satisfação, brindando a boca que sorri tão grata
por não precisar dizer o que se degusta muito além de todo o mais...

Não decorre para o fim, parte o tempo pra convir
com a realidade paralela de sentir que o provar
é a confiança de estar, liberta de correntes
para aprender a preservar;
provas entre meios, entre seres que somos nós.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma porta pela janela, dentro do coração

Uma porta fechada, e mais,
janelas escancaradas, cheias de percepção e vontade
que um desejo se torne realidade
que um corpo volte e pela janela peça que se abra
a porta, para o peito ser muito mais que uma cortina das vestes que o cobre;
é para desnudar o coração que se pede a chance pra entrar
E fazer descobrir que o espaço é medido apenas pela capacidade de entrega,
aproveitada.

Uma porta fechada no teu peito
que embebe calado
a falta dos gestos ainda mais ausente
que a falta de palavras.
E desenforma um corpo
retribuindo obscuro que a ausência é o corte da alma
e a porta do peito, totalmente trancafiada no coração.

É muito mais que o lado de dentro,
é o avesso.

sexta-feira, 22 de maio de 2009



''quem inventou o amor?
explica por favor!"


.

sábado, 9 de maio de 2009

Pra que servem os anjos?

-Menina linda, de nome flor, me diz, me diz, por quê pintas tão cinzas se tudo o que é olhas é de teus olhos tão verdes e claros?
-A dor me desbotou os olhos, nobre senhor, e o cinza se desabotoa das nuvens ao céu, agora quando desaguam e veja como fica: é tão claro...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Embrasse

O calor das palmas pelo corpo, é fundir a matéria da existência em ferro de força, latência de viver. E se desvanecer dos movimentos, é a sensualidade para pedir mais, e no momento do aconchego mais que perfeito daqueles corpos.
Ela podia fechar os olhos e sentí-lo dentro dela, perscrutando-a por fora, e sinalizando o desejo muito além das pretensões mundanas.
No momento em que os olhos se encontram, ele não sabe esconder a luz, nem que fechando os olhos, são estrelas fixas e imóveis na mente, inesquecível a pureza que ela carrega dentro de si, e tanta lascívia que sem arma, é cativo e forma suprema, pra trazer paz.

E nas horas inexatas eles se encontram, trazendo sorrisos em formas sutis, plenos de um amor que não escreve e nem traduz no que já se sabe,
ou aprendeu-se a dizer;
vale a pena ressaltar apenas que as certezas são surpéfluas perto do sentir, e o que compensa é a condensação do sublime num toque etéreo e eterno - colidindo a existência e a condição de mortal
pra vivê-los e morrer de amar mais do que se pode.

sábado, 25 de abril de 2009

Not for every day, sunshine

O caminho se prestava de uma estranheza visível, gotas de chuva misturavam-se ao suor do dia temperado tão quente, nas condições de existência que passavam-se agoniantes no meio da indiferença, e ressaltadas agora, pela surpresa pra entender a realidade: uma caótica saudade.
O costume da paz pelo nome que desejava gritar mundo a fora resplandecia-se nas aturbulações que frequentavam seu peito em pulsações, e, pulsos, que já não sabem mais argumentar ações de salvação - então o jeito, fôra viver.
Carlos estava calçado sem luxo, sapatos escuros e empoeirados, rastros do tempo correndo, correndo. E vestes escuras, casaco para acompanhar a estação, cachecol para juntar seu gosto a tentativa de recorrer ao tempo por completude; os cabelos desgrenhavam-se ao vento que passeava com pressa pra entender o tempo e desfilar nas existências humildes o poderio do intemperismo: 'do nada que somos, o karma da espera é o que carregaremos'.
-Ah, como é debochado esse tempo soberbo!

E prosseguiu...
Andou seu rumo, guiado por pensamentos que não iriam chegar a lugar algum que fosse a terra em solo de suas memórias correntes e vontades corrosivas de tempo sem prazo, apenas a vaga da vida ressurgindo em suas mãos e acalentando o imutável como eterno inacretável - o fundo de toda realização plena. Largou o livro que tinha nas mão em cima de uma pedra da qual estendia-se comprida, e sentara-se ao lado do mesmo, sem abandono, estava tão distraído que palavras soltas eram borbulhos dessa loucura toda que não tinha fim, -Sabia desde o começo.

À sua frente pairava um lago, e sua tácita impressão da superfície plana para profundidade ser estudada, e sem fundamento, um mergulho sem volta, pra intensidade afogar-se na complexidade do mesmo coração farto - submergindo a si próprio em idéias distantes e tocáveis.
As mãos tocando água para saciar a sede transparente, do fardo invisível de sentir, o sereno que se mostra insípido e essencial.
-como sinto tanto se não posso mais ter?

E a condição das folhas caindo, deslizando sublimes sob a superfície frágil e imprevisível... Ah, entendera que o peso do corpo é o fardo da condição - mas não há válvula de escape pro amor que é sublime e aterrador, ah jogara folhas ao vento de palavras, interrogações ao surdo senhor,
amado, me responda: quando, quando há de o vento devolver-lhe a cor?
E não falamos de vestes ou de cenários, ou do que há por trás da neblina que encobre o fim da história que precipitou-se a um meio em labirinto e universal infinito de recorrer ao inexplicável, é apenas, a significação da palma da mão trêmula, que larga intimidada o que mais adora e parte para o vazio, cercado por montes, barragens, trincheiras, que fazem a mente, infeliz sequer coerente deslizar pelos nervos e limpar os poros para sentir o frio.

Pois estava tão cálido, que derreteu o sol do céu e deu o parto das nuvens cinzas, na confusão de dentro pra fora: chegou como um espelho a água calma por si só - inocente engoliu o último raio do poente, e devolveu pra si mesmo a verdade mais latente; retirou o telefone do bolso, apertou botões como se chamasse a atenção com as mãos, e a combinação chamou ao que atendeu e ele disse: - estou desesperado sem você por aqui.

E o dia, acabou ali.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Flores novas

Abre os olhos e sente o cheiro ocre da manhã; o ocre do apático. O corpo remanescente de mais um dia que infiltra seus raios pelas frestas da cortina e impede o disfarce da luz, e não adormece mais a existência que quer esquecer. E subitamente, quando fecha os olhos em nova tentativa, se ajeita e sente infiltrada na fronha, a sensação de um passado, num cheiro de vida plena: uma lembrança sinestética traz a pulsação frenética como um sonho passando vívido para o tom da realidade.
Um súbito lirismo que não saberá nunca dizer enquanto apático e mudo, no fundo da cama, esquecido que o coração dá ritmo, pra harmonizar o caminhar.
-

É estranho e bonito, sentir a dor como frêmito de um novo começo, aonde a lembrança rege o outrora como vida inexata que parte agora, a capacidade de sentir sem regressões, mas em essência intransferível da verdade: é sentido, é sensação, é engano dos poros escondidos na malha fina que colore o reflexo no espelho e explica, sem razões, que é o impulso silencioso pra romper o crescimento natural e deixar transbordar vertentes pelo demasiado, e na intensidade suprema, indicar que o tamanho não é nada demais.

Enquanto é hoje, dá pra suportar; o calor e o caminho resplandecem que o tempo é curto e o sentido dá tanto, que se não fizer vai deixar cair, e vai inundar os pés, e encharcar a vida numa terra que precisa antes de tudo, adubar.
-
Aleatoriedades para flores novas em terra mal-tratada, de capacidade tão intensa, que o contraste nublado do céu não impede o calor da sensação,

e entender a vida toda num suspiro, numa gotícula,
fonte de respiração pra inspirar o pensamento a ser sensível enquanto bruto;
e defender-se do vento deixando o peito aberto, o corpo estendido para o mundo
no seu repouso inteiro, a cor da cortina espelha o mundo,
e partilha o cuidado dos tons dos sonhos, no travesseiro.


domingo, 12 de abril de 2009

Mãos ao alto,

Ainda que tenha dito tantas vezes 'Adeus',
nunca aprendeu a lho apartir de si mesma.

vazias preces de cura.

sábado, 4 de abril de 2009

...tão sozinho de saudade...''

Mas faz tempo que o coração não desperta em paz.

E toda folha de jornal é verdade muda,
do mundo conturbado nos seus sons sem fim,
que não cobrem as onomatopéias da falta...
E o jovem se esbalda na canção que brotou das suas lágrimas,
repleta da dor de seus ouvidos.

Ah saudade,
como te apropriastes do silêncio,
e gozas da solidão pra usar a dor como mais funda maldade
de um corpo pobre, doente coração
da manhã descartável.

sábado, 28 de março de 2009

11:58h

Um par de olhos verdes se olha no espelho e repara o rosto todo abatido pela solidão.
Olha para o lado, avista a Tristeza, e diz:


-Bom dia!

terça-feira, 24 de março de 2009

Do galho mais alto

A morte mais doída foi a do pássaro que cantou tão alto,
que estufou peitos para suspirar, e libertar-se - foi um destes que;
no vôo mais alto, num vento que não pousa em flor
cortou as asas e deu a queda para aquele que mais amou
saber que existia a clamor...
agora geme, sofrido, a falta do professor, que partiu
e levou outras asas, assim que não escutou mais o que é
o horizonte da liberdade nos olhos que lhe querem incomensuravelmente.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Diálogo de suposição

E o Desejo fala para o Contentamento:

- Como posso me satisfazer te apalpando, se não te toco?
...
-O silêncio, como responde?

-Me mata.

...

domingo, 15 de março de 2009

''...If I could be who you wanted, all the time...''

As mãos apalpam, e grudam na textura que depois de decifrada,
é mistério pra alma:
será que guarda sinestesia além desse epitélio?
O epitélio que não passa de um suspense desse desejo que se esconde além de camada sabida
é fonte desejada, indecifrada saciação por matéria em falta. falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.falta.
Pois do que apalpa as mãos, rabiscam as unhas escrevendo anseios
Tintas de secreções minhas, linhas de digitais, únicas humildades dos toques,
habilidades sublimes do acaso que não se escolhe,
mas pede-se para que domine... e além da posse,
é da falta que elas falam pra produzir e gerar o ar
a enfeitar o vácuo em que se esbaldam (vãs), e se fecham, no vazio das mesmas palmas...

Alisam para que entendam,
friccionam para que persista
a conexão suja dos sentidos com o engano
de que a falta sumiu na poeira que não cola nas mãos limpas,
só invade a alma límpida que no móvel imóvel se fixou.

Muda a escrivaninha de lugar,
mas o lugar, continuou;
indelével submissão de dedos,
e o rosto que se esconde neles se esfrega
como bicho no cio
que se comove recriado nas pontas dos dedos e da escrita,
mas sem qualquer salvação.

Deita sobre o leito das palmas unidas
essa impressão que não passou dos instantes,
e estalou nos dedos impacientes
essas palavras abarrotadas, inconsequentes,
donas impulsivas das demandas dos poros

É selvagem a contagem dos que se multiplicam
e na hora da saudade, explicam inúteis,
que o vazio mora na suficiência de estar-se.

São cinco contra um;
dez contra um;
vinte contra um;
mas, longe fica o coração.

:

-Adeus, largam as mãos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Cavalgada

_A base da taça vira marca suada sob a mesa em que me debruço, e o vinho bruto chacoalhando entre meus lábios deixa degustada a reflexão, e muito mais que uma impressão, é uma ânsia que só se saceia com a presença, então não me apresso e aceito a condição.

__"Digo agora, por entre os passos que estas marcas me deixam, os bordados que te apetecem, depois que as tuas linhas se posicionaram no meu corpo, agora (sem)pre, depois. E isto pode ser uma carta, uma carta que pode nunca até ti chegar, pois não é o teu destino a subliminaridade rarefeita, e nem a tenho nas mangas: é uma jogada lançada ao vento, assim que diante de ti, me despi; e não são tão esclarecedoras estas palavras, pois são suspiros, e a voracidade, devora.
__E como quem conduz, tua boca de dentes famintos e minha fome de caminhos insaciados encontraram-te sem o apelo do tempo a lembrar-nos do garantido ou do premeditado, mas sim, do confiável por entrega plena. E entre indagações que estreitaram as direções de nossas bocas, o pescoço à curvar-se, e a abertura que buscou um ao outro, pela boca não foi resposta, mas trouxe o encontro das incógnitas num só corpo. A expressão inteiriça de que não demora a dúvida a transpor um segredo, e entre transparências é só luz, reflexo de um gozo perfeito.
A transfusão que não revela, mas encontra as horas na condição perfeita de sua existência: esquecê-las para desfrutas apenas de suas passadas, e nos frutos deixar passar provas - para nas mesmas guardar o toque na realidade, por lembranças. A sinfonia tênue do que conhece-se com a liberdade de transpor a vida com o espaço de si próprio, e existe ambíguo, e doce, tão rude que seduz e o turbilhão que vira silêncio é troco perfeito pra vontade que não se mede e selvagemente, se conduz.

Os suspiros que escalaram alto, derreteram-se nas precisões de teus feitos, e os chamados que pude condensar em palavras são os artefatos que não farão esquecer e latejam agora, nos sulcos de minha pele que inflama a lascívia entre a dor que suplica, e o teu abraço cálido e ternuroso a me fazer existir, existir.
__ Por quem vive de mãos dadas e não se alcança por espaços de um mundo sem compasso, nossos braços colidem, e a vontade se contrai enquanto minha mão te buscar como o
sintoma de minha caligrafia, tua voz será o gesto mais sublime do que indica-se como a vida: uma grave ordem, o rumo de uma despedida que se desconcerta e se provoca na espera de um próximo encontro."

_Como um diamante, nu e bruto, recaio selvagem e a minha natureza é de um cru que não é virgem, mas é puro como sábio, assim, um bicho, impossível e tentador.

Ah, eu volto (justo quando venho),
_________________________________________Antonina.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A plataforma do atemporal

Sonhara numa atmosfera tão plena que o único despertar pra realidade
foi o coração pulsando frenético, o relógio de seus momentos
As palmas estavam unidas, querendo prender os instantes por entre os dedos
que nada mais podiam além de tatear seu rosto, segurar as lágrimas da impressão de que o mundo era muito menor do que as reais sensações.

Transcendeu seu espaço com o respirar fundo e puro
de que os personagens prosseguiam ali,
e o mundo confuso, era só um peito angustiado
Pronto para no próximo abraço,
para o instante
de entender calmo
a fragilidade real de um coração, e vivenciarem.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O sofrimento da árvore galhuda, o caminho D'ele - lindo e livre

Primavera se foi... e com ela o calor aguçou a sensação do querer por estar livre. A árvore galhuda, no seu chão inabalável por raízes fortes, e lindas flores que abandonou para conceber novas, estava inclinada à vitalidade do tempo, e dentro dela, certa angústia a secava, mas o casco ainda era belo, o passarinho lindo e livre sempre voltava.

(Sorriso)

_Em um dia destes, passarinho vôou e deixou os pequeninos gravetos que aninhou como um arranjo para a beleza dos galhos da árvore, e se foi. Voltara hora ou outra para falar-lhe do tempo ruim, mas nunca mais da canção de amor que ouvira de seu tímido bico.

O olhar opaco de um passarinho lindo secou a árvore, e as nuances vitais viraram palidez que diriam apenas, reflexo do sol.

_Ela se êxpos, o sol a secou enquanto desarmou-se para estar sempre à vista do pássaro. Mas ele é livre, e ela é só dela mesma. As flores de cores fracas estão berrantes de um ciclo doloroso, pois queima o ninho, e o estado dessa solidão ecoa nos cantos distantes, no ''Bom Dia'' educado que lhe dá sem maldade, mas também, sem a unha que lhe crave desenhos e todo dia marque a vida com um sonho bom.

_Pois a existência dela é mutável, e as folhas caem sobre ela, ficam em seus galhos inclinando o espaço que ficou para quem a guardava. O vento conduz mas não dissipa, e os galhos, tão atraentes, agora são sombra que não atraem aquele que quer o sopro do mundo, a falta de tom.
_A manhã agora tem um Quê inexato, como se o tempo recolhesse suas bagagens enquanto se muda, ela sobrou.
Um ornamento de última viagem, mas recolhido recanto de primeira paisagem e conforto, no mesmo lugar; mesmo que mude.