domingo, 14 de junho de 2009

Ondas monumentais

Ela voltou pra casa sentindo o frio causando calafrios nas suas mãos ainda que cobertas por luvas - cada dia sentia mais.
Fechou a porta e aconchegou-se na potrona, observando o espaço, procurando o lar naquele lugar. E os olhos pousaram sob a estante, o cd das músicas que ele fizera estava lá - então ele voltou. Mas não permaneceu. Apenas o cd. O cd com suas canções para fazer etéreas as lembranças do frio, do tempo, do vento, do dia sem bilhetes e sem amor pra consumir nos braços; sem amor pra entender o gosto do frio queimando a língua assim que de nós sai vapor. A falta pra consumir o silêncio sem risadas, a cama desarrumada e o cheiro de mofo daquilo que se usa só pra condenar o tempo que nunca passa no que é comunal.
A rotina lhe doeu tanto que só pôde chorar. Só chorar e sentir a lágrima secar, a ponta do nariz ficar gélida, a mão ainda mais estática. Não tocou, só olhou pra lá. Já não quer mais frio. Não aguenta mais intensificar o tom. Não é a dor da estação, mas é a falta de uma presença.

O frio lhe deixa quente por dentro. Por dentro a latência lhe responde que a vida é puro foco de luz, cadente estrela - um tombo pra riscar a atmosfera com seu próprio tamanho e transfigurar a verdade pra realidade.
Afinal, se em tudo o que faz é só lembrar e viver por isso que consiste, não é vazio, e não haverá vácuo para consumir essa história toda se o que sempre volta, é o som.

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