terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Rastro de seus olhos

Laura estava sentada na condição que a postura do sofá fornecia-lhe. De pernas cruzadas e majestosas, os olhos que lhe observavam caíam instantaneamente por seus pés e impulsionavam a subir, chegando à cintura de curvatura bela e bem combinada aos seus seios sobressalentes à estampa da blusa branca que usava. Por debaixo desta, um sutiã vermelho aparecia pelas alças, e combinando com uma palavra estampada na blusa, ainda despertou por detalhe do gesticular a mesma coloração nas unhas - e se não por realismo, por desejo, da mesma forma seus lábios apareciam. E queimavam.
A situação ficava cada minuto mais fixada nela. Interessava o brilho de seus olhos e acessórios. Interessava ainda mais fantasiar essa majestosidade em hábitos que acolheriam bem todo seu ar concentrado nos acontecimentos, no ''por vir'', centrada permanecia, quase arrogante - não o era por completo por dirigir seu par de olhos à todo lugar, parecendo deixar tudo o que observava mais forte e claro: rastro de seus olhos.
Algum cigarro poderia consumir a sutil manobra de formar fumaça, soprar segredos visualizados com alguma mão a abanar-lhe. E assim quase cumprimentar e desvendar-lhe. Desnudar essa manobra engatilhada em cores, postura e fumaça - soubera tanto quanto fantasiava! E poderia perder instante por instante quando realizasse, e novamente ela, prosseguisse à espera.
Sentada a cama dele, marcaria o lençol com sua pele branca e as transparentes e fortes expectativas de um desviado observador.

Dado conta de sua censura, não pudera mais tê-la. Como resposta percebida à sua fronte suada, fechou os olhos, passou a língua pelos lábios, tentando recompor-se. Inclinou-se para desistir dos ruivos cabelos, caminhos de Laura. Assim tendo feito, levantado até estar de pé ganhou instantes do direcionamento dos olhos claros dela. Ofuscado por tal luz, ele escolheu a sombra d'alguma árvore lá fora para esgueirar seus desejos.
Não suportava escolhas quentes; e os graus queimavam nas órbitas e na ousadia. Suava e perdia-se, fumava para incinerar os rastros no ar.

Depois de respirar fundo, sentiu que já não mais adiantava, expirou para dentro de si o vital que lhe matava, o corrosivo para respirar. No ar estava, no peito arfava.
Sua paixão pela fantasia era inevitável. Tê-la o destruiria. Fuligem era o que ele então viraria.
Escolheu então o Sol, e a fumaça da silhueta personificada pelo ar, dissipando-se em cada gota, em cada delírio; pois eram seus olhos, seus próprios olhos que queimavam esse caminho, esse mar abrasivo...