terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Rastro de seus olhos

Laura estava sentada na condição que a postura do sofá fornecia-lhe. De pernas cruzadas e majestosas, os olhos que lhe observavam caíam instantaneamente por seus pés e impulsionavam a subir, chegando à cintura de curvatura bela e bem combinada aos seus seios sobressalentes à estampa da blusa branca que usava. Por debaixo desta, um sutiã vermelho aparecia pelas alças, e combinando com uma palavra estampada na blusa, ainda despertou por detalhe do gesticular a mesma coloração nas unhas - e se não por realismo, por desejo, da mesma forma seus lábios apareciam. E queimavam.
A situação ficava cada minuto mais fixada nela. Interessava o brilho de seus olhos e acessórios. Interessava ainda mais fantasiar essa majestosidade em hábitos que acolheriam bem todo seu ar concentrado nos acontecimentos, no ''por vir'', centrada permanecia, quase arrogante - não o era por completo por dirigir seu par de olhos à todo lugar, parecendo deixar tudo o que observava mais forte e claro: rastro de seus olhos.
Algum cigarro poderia consumir a sutil manobra de formar fumaça, soprar segredos visualizados com alguma mão a abanar-lhe. E assim quase cumprimentar e desvendar-lhe. Desnudar essa manobra engatilhada em cores, postura e fumaça - soubera tanto quanto fantasiava! E poderia perder instante por instante quando realizasse, e novamente ela, prosseguisse à espera.
Sentada a cama dele, marcaria o lençol com sua pele branca e as transparentes e fortes expectativas de um desviado observador.

Dado conta de sua censura, não pudera mais tê-la. Como resposta percebida à sua fronte suada, fechou os olhos, passou a língua pelos lábios, tentando recompor-se. Inclinou-se para desistir dos ruivos cabelos, caminhos de Laura. Assim tendo feito, levantado até estar de pé ganhou instantes do direcionamento dos olhos claros dela. Ofuscado por tal luz, ele escolheu a sombra d'alguma árvore lá fora para esgueirar seus desejos.
Não suportava escolhas quentes; e os graus queimavam nas órbitas e na ousadia. Suava e perdia-se, fumava para incinerar os rastros no ar.

Depois de respirar fundo, sentiu que já não mais adiantava, expirou para dentro de si o vital que lhe matava, o corrosivo para respirar. No ar estava, no peito arfava.
Sua paixão pela fantasia era inevitável. Tê-la o destruiria. Fuligem era o que ele então viraria.
Escolheu então o Sol, e a fumaça da silhueta personificada pelo ar, dissipando-se em cada gota, em cada delírio; pois eram seus olhos, seus próprios olhos que queimavam esse caminho, esse mar abrasivo...


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Na forma do movimento

Caminhando pelo trajeto habitual de suas noites, passava pelo caminho observando à sua movimentação o brilho refletido na matéria que pisava, das pedras alinhadas debaixo de seus pés.
Amolestada por reflexões ora desordenadas, ora em firmes estacadas, contribuía para dorir o espectro ocupacional de sua noite. Ela passeava os olhos para o encontro do significado, e no momento, para o entendimento tecelão do sopro das palavras, do poderia da confecção quase personificada na haste do vocábulo.

Era de seu corpo que demonstrava a matéria de sua razão, numa moldura clara e simples é aquilo que se vê. Porém tão condicionada a olhos concretos, urbanos, intimidava-se com ombros contraídos. Para sua busca interna com pés, por entre o chão...
Explanava ainda da matéria mais delicada e frágil que parte do ponto interno de si mesma; de dentro para fora, da matéria para a palavra, do sentido pra significação.
Induzida por seus próprios vícios, no cansaço procurava virtudes, e por hora cansava-se da própria busca e afundava-se em tortuosidades da barreira de não apenas existir.
Cansa-se misturando o presente a passado, imperfeiçoando qualquer futuro, exprimindo o avesso do confuso, da linguagem, para aproximação d'outra camada.
Longe da epiderme do comunal em saudade, em vagarosidade, procurava apenas (des)conter-se nas idéias remetentes de tato, ainda como a veste dos olhos cristalizados, no palpável rosto banhado, na sentença de uma voz da bagagem de uma fotografia; na ânsia da vagarosidade, produzia saudade, com outra vocação.
Utopicamente objetava-se a encontrar nos caminhos decorados de seu lar e das cotidianidades enfileiradas, um pingo de demonstração palpitante à ilusão derrotada pela vontade de alguma simbolização nascida do espírito; da fome de quem clama por perseverança, do ócio de quem balança no pêndulo do tempo, e na divagação do incomum no metal das antenas, no risco das jóias.

E para quando seus suspiros embalsamaram suas idéias, o arranjo de sua cortina fechou a fronte da partida, com a fachada escura do quarto que a abrigava, deixando uma fina tarja sépia, dentre a escuridão da noite e seus mantos.
Ou adormecera, ou forçara com suas mãos qualquer movimento que praticasse a luz para sua ''trajetual'' significação.


Imagem por Amélia Vinhal

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tu, Eles, Nós

Pura e fértil era a silhueta que alongava o traço do contorno que a luz pouca, comprimida,
à entrada e frestas na cortina, lhe cediam.
Na verdade era um pouco de sentimento que retrataria os sentidos sem ter a mínima razão inteligível.

Olhos fechados para a saciação na concha de mãos unidas para o beber do instante com um pouco de amor.
Este que precipitava a saliva, inspirava o suor e os líquidso ao fluxo dado de tanta emancipação.

Eram já corpos íntios à queda da noite usurpadora de sentidos, a sustentavilidade de impressões desatentas da qualificação visual;
enrustidas de plenitude sensitiva, ao quadro do espírito, a aquarela de seus significados.

Naquela monogamia de estado, diria-se deles mariposas comunetes à noite;
Íntimos da calidez da manta furtiva, e sépia da liberdade encostada discreta na dobra da parede, na veste em cortina.

.

.

.



No quarto dela, sem ele.
Havia espaço demasiado, só que apertava-lhe tamanha ausência.
Configurava cubículos, ainda que desses centímetros de versos coubessem seus corpos como milímetros, só.

A paixão coubera irradiada por essa luz que esgotava-lhe.
Um conceito sabido gera grandes manuseamentos condicionados. E a geratriz do bem-querer não pode esperar por conceituação.

À margem dóutra página, fixa oalavras de vocábulos-ruídos...
Quando perdesse a poesia, haveria o canto. Sem afinação, os sussuros ou gemidos.
Ainda sem som: o espaço clama, habitação.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A menina das mãos pequenas e dos grandes feitos

Vista numa abertura da janela vitral, havia ela e suas insistentes madeixas, tão sedutoras.
O vento trazia respaldos de movimentos empurrados, até a chegada naquele corpo,
no cubículo quadriculado que a abraçava;
pois tão bem aninhada nos lugares, clamava sem súplica o aninhamento de um filhote
- e dos olhos de quem a tinha sobre as vistas.

Ela, deslumbrava serena o contorno da sua existência.
Para começar consigo - aos alvos-chave de seu corpo - por suas mãos, pelo encantamento provocado pela voz, o caminho de seus olhos, o reflexo, em sua alma.Variava posição da prontidão, criando por cima dela, colorindo-se ao que apetecia a altura de suas mãos; num esmalte, no modelito.

Recortava-se na paisagem criando um álbum de fotografias para o seu corpo no tempo diversificado - praticando a conversão de sua consciência, a candura do simbolismo condicional;
que não crêra vivo se não satisfatório, sorridente por alguma expressão.

Sentia-se colaborando com a passagem dos anos, marcada nos traços de sua personificação, cuidadosamente selada pelo sussurro da experimentação existencial - delicada como o dedilhado de fundo musical, essencial ao sopro do vento como o balançar das cortinas - como incentivo por entre o frêmito de seus cabelos.

Cuidando fio-a-fio da elasticidade das condições, determinava possibilidades às figuras impessoais; tanto quanto beijar uma flor, quanto amar uma estrela, aos conselhos do que chegou com o vento.

De súbito significado, seus órgãos movimentaram a vida, desde que sustenta-se de sua docilidade tão decidida, à folha branda, da sua sensibilidade escrita.

Passara pelos ladrilhos e prometera versos que inspiravam de qualquer forma, como desenhos tatuados na parede - de fria tinha seu ânimo (por vezes); de seus desenhos, suas ânsias.

Suas mãos pequenas tateavam seus sentidos completos; de seus sorrisos à suas manias prestadas, variava fio-a-fio a textura de suas virtudes viciantes, incontidas.

De beleza, soava excentricidade; em seus atos, alguma malícia, estratificava aos olhos alheios sua vitalícia, sua curiosidade contida nas respostas esvoaçadas nas circunstâncias, e no recurso íntimo do ser em cada instante.

Sentada sobre as mãos deslumbrava as notas de seus suspiros encontrando-se por outros, tecendo-se em flor implantada pelo tempo; de todos os horizontes decididos por medo, por acompanhamento.

Um estalar de dedos, ainda de mãos pequenas, desviam e chamam a pontuação da atenção; é a vida, é uma menina; debruçada e atenta, esvoaçada na expansão dos mínimos feitos, na máxima identificação.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

1/3 da gota

Derramada sobre o fluxo da apatia pela chuva corrida, passava-lhe pela cabeça todos os acontecimentos movidos, por essa apatia.
Circulando por lembranças, fatos do hoje envocaram desespero, deixaram a apatia clara ali, exposta aos seus pés fragilizados pela proteção fina de um pedaço de pano - pelo clima clemente de aconchego. Deixou-se por si encarregada, carregada de súbito preenchimento natural, de seu pensar vazio; que pesava no que ausentava.
Cada minuto corria como as gotas exasperadas da chuva clemente, do tempo presente cheio de passado, todo corroído pelo futuro............ apático.
Estava completamente derrotada pelo que escorria em seus rosto, invadia suas mãos; o solo lá fora, a luz do céu, a cor da paisagem. Clamava melancolia quando submersa nela.
Clamava versos quando destituída de proteção. Numa grande e significativa rouquidão por disposição, encolhia-se perceptivelmente, sem vontade de esconder-se.

Seu corpo grande encolhera-se numa figura de casulo, numa expectativa densa de abrir o tempo e florescer encanto, brotar movimento para além da espera, para além da apatia, para além das palavras.

Fragilizada pela chuva, pela culpa que caira sobre si própria.
Não eram etapas do tempo que a corroía, era o súbito vazio que o novo vento abatera quando abriu a janela, e esvaziou a sala, o quarto, do aconchego de seus pés apressados para abraçar o que agora, saíra para fora e molhado, gelado, está simplesmente, apático.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Amantes

Pontos ininterruptos de interrogação
E nuas respostas esclareciam ao consentimento dos olhos fechados e gesto mudo do corpo
De vontades insinuosas escorridas ao vinho experimentado no interior do sustento requerido;
feiche de vitalícia com pão à lábios, que degustam a virtude dos impulsos.

Gestos adocicavam os brutos movimentos da cumplicidade erótica, por fúria acalmada de sua selvageria na própria seda envolvente de epiderme, essência estendida, na nitidez;

Sensações despidas nas curvas nobres das palavras
Letra por letra que engole razões insolúveis de exatidão sonora
Caprichadas nos ruídos dos enlaçes, para a sinfonia dos impulsos que tremulam, e
harpejos que desejam

Cantam os suspiros, coreografam conforto.
Cúmplice linguagem dos sentidos
dissolve a ponta dos dedos no toque da exposição exata,
deixa tão claras as satisfações, que frizam as superfícies, para lembrança da matéria

Sinfoniza desejos correntes à movimentos prezados
De maestria envolvente e poses intocáveis do amadorismo
Sob o conjunto sem tez desta vis(i)ta pouco esclarecida.


quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Ainda volto pra me explicar

...
..
.
Sabe, me amorteço nas condições de ser variável. Me sinto mais amável fortalecendo espaços pra mim própria connhecer-me e cuidar dos outros com meus braços nos dele; para além de um enlaçamento, mas uma alma corrente.
Quase uma entrega brega de jargão de filmes estrangeiros que pretendem bancar os emocionantes, ou quem sabe uma metáfora poética que sempre consumí mas parece que nunca prosperei. É, talvez esteja eu mesma ainda propensa em alguns desejos soltos, possíveis frustrações; isso parece envolver um certo orgulho que não sei se domino. Caminho aos passos de um andamento meio aleatório em seus procedimentos; a caminhante errada não deixa de progedir - ao que possam encher de boatos as bocas que me gritam insana. Pelo menos minhas estradas não ousaram me deixar entristecida pela falta de orientação.
Minha rudeza quase deixou a marca celeste da ambiguidade da percepção à compreensão isolada do que dividi com quem a merecia quase desmerecendo...
Nem por isso inválidas, recorri as vias práticas do que me ecoava; já sem plano pra avançar ou aquela doce voz pra me agradar sem mais melodia, decidi instalar as minhas na voz dele. Ele que viu a tudo que senti, ou não. Pois tanto ainda me cabe que não mais guardo bagagens pra me abarrotar, beirar enjôo.
Fiquei com as lembranças que não possibilitaram ostentação ou vestimenta, mas foi a que mais sustentou. Quisera então meu eu-lírico contemplar a situação com outra pessoa discritiva, e eis que me enclausuro no cabo de outra despedida.
Não desesperes tua vida em qualquer atentado. Ainda volto pra me dizer nestes ventos que me sopram certos a continuidade; estou à mercê de mim para fugir de você.
Deixo claro que não explicitamente lhe devo satisfações, mas me satisfaço com teu olhar de atenção... Até eu dizer que por fim que já chegamos.
.
..
...
.............................................................Antonina.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Rasgad(o, a) ao vento

...
..
.
''Não vou ousar em nenhum momento atentar minha vida por você.
Se por profundo desespero cabo a lhe escrever, é porque a calma de algum amor, de alguma paciência cheia de ternura ainda decidiu se manifestar, declinou em lhe ter.
Sendo que há muito de vida fostes codinome, exatidão, manutenção de sentidos coerentes é mentira para este caso, verdadeiro, se for, é atrito.
Se fujo com tuas bagagens, é por apego das matérias que lhe construiram à mim tua pessoa - que personalidade coube ao vento - que me declina ao passar, moldar as roupas de meu corpo, a ameaça protecionista de minhas escolhas...
Escolhi o vão para preencher o espaço desabrigado, longe do alinhamento padrão da prontidão ao fim de teus atos.
Deixei todo o processo inacabado das atividades para não perderes o ritmo dos dias, e muito menos o peso das mãos que cá te afagam em despedida de carícias, mas cheia de trajetos psicológicos.
Se ao longe fico distinta, se te pareço (não-)estranha, tua organização apenas confundiu lugares. Sem o apoio de tuas mãos, à este pedaço de coração rasgado, os manuscritos de tua inteligência jamais teriam significados, e as encostas na parede não lhe cobrariam os erros e lágrimas que posiciona(ra)m. E que nostalgicamente ideológicos, meus beijos de fim por cá mandados lhe retorcem o comodismo.
Com ódio adocicado, anulo os fatores do tempo e declino-me à esta tua branca visão,

Tua confiança sem palavras, a quem chama(vas) de Antonina.''

..
...
....

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A pílula da inexatidão

Debruçada sob um tempo remoto, a janela metaforizava a ânsia de reproduzir a velocidade dos resquícios brutos dessa passagem

Parecia esperar os objetos e utensílios necessários a uma inspiração conquistada, favorecidos à acoplarem-se à seu corpo para cuidá-la à seu casulo, a progressão dispensada da contagem aos dedos e números; um salto da memória.

Construia visões com tudo o que já conhecia, paredes e calçadas o seriam quando compatibilizassem forma à informação, numa arrumação alinhada do entendimento de sua vista à sua pacificação.

E em quase uma persistência ótica, esbarrou em um objeto agudo de transporte, uma via que abstinha seus passos calmos de entendê-la como ponte, e de tudo que poderia ceder com o codinome já sabido de respectiva função.

Naquela hora dispersa da ordem cronológica, quase como um luxo,
soltou-se dos adornos de um 'habitat' condicionado para enxergar seus rastros nas idéias que concebia...

Tinha o poder de extrair de cada linha tracejada um traço de seu corpo, uma caligrafia proporcionada pelo metal da solidificação em em seu andamento de vida...

Uma dificuldade calma envolvia seu corpo, numa pele nova, despindo a acomodação da vista através da persistência da calma

Observou-se como um gole de momento
Num aBAST(A)ecimento do todo
Pra fora da situação havia outro compartimento
A bolha da salvação que se impusera tinha cor da química que a submeteu à este doce deletério de miasmas...

Despida de um terço de sua modelagem bagageira, conseguia inspirar vontades para arcar-se e colher flores, respirar frutos à semeadura da fresta de cada ladrilho pisado,
como novidade desequilibrada,
seus passos tomaram a direção que apontava seu progenitor;
causada por um espasmo onírico, tentou concretizar a vista para tal percepção
Em absoluto não conseguira.

Tomada então pela angústia da ignorância, sentira-se impotente, e num quase suplício fechara seus olhos,
que escoaram gotas da situação, embaçando sua ótica,
e em fumaça esvaiu o que sabia, o que produzia.

E quando um terço do que segurara seu ombro caiu,
percebeu na pele o adorno da passagem, o seio de sua proteção natural,
no movimento de uma freqüência,
que descobrira-a em continuidade...
de se toma à lágrimas derramadas pela pouca confiança, e num espaço permitido,
num gole engole-se a fraqueza e sorri a esperança daquela felicidade não percebida no exato momento de amor;
mesmo que noutro andar de tua vista, os sentidos se dividiram para transportar a vitalícia
e reposicionar a circunstância da impulsão estratificada nas vielas silenciosa dos dias.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Gotas sólidas

Um pingo de mar,
um pingo de chão;
razões derretidas
na finura das emoções...

Na pose secreta pela sutilidade do comum,
os olhos curvaram a diferença da nova cor do corpo muito mais aceitado
Se vira num sorriso de pérolas pigmentadas, em suplícios fragmentados por momentos passados por doces fantasias realizáveis.

Passeavam estimas às voltas definitivas do corpo,
iam a beira de retratos enxergados pelo ânimo,
agora tão acessíveis à mãos estendidas.
Cuidava muito mais das flores nascidas na mão de todo indivíduo que fitava
Recolhia com precisão incalculada a liberdade dos sentimentos no enclausuramento inocente de seu próprio espaço
Feliz era quando assim não se supunha ser, e vivia com o amontoado manuscrito das letras
Que revelava sua natureza em outros cantos, no canto...

de seu vestuário, uma peça nova para o canto do quarto,
a pose da visão estarrecida na solidificação em imagens de suas razões sensitivas;
com um pingo de literatura,
à tela solúvel de sua percepção, apaixonadamente tato da aquarela.

Ao som de um dia que combinava com a irradiação de suas palavras e melodia da pronúncia
A chuva fina neste sol de alegria gerava o arco-íris de sua inspiração.
Sedutora pela luz que contornava seu corpo na volúpia de uma pose,
deitava como o pôr solar ao mar de calma agitação...

Transpirando as gotas puras da sensação em coloração tingida aos panos do cenário.
Abraçada pelo seu amor.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Unidades (in)concebíveis

A luz desperdiçada de manhã era o único rastro concreto naquele ambiente.
Cortando a penteadeira que acima compunha um espelho, a face entrecortada por impressões, luminosa solaridade que respondia a amargura ressaltada naquela separação.

Restabelecia seus fios dourados, alongados ao lugar concentrado de seu conjunto
Cuidava de sua face delicadamente, aplicando funcionamentos perfefeccionistas, estéticos;
adornados ao costume, idêntico ao sol poente.
E destituía-se das finuras(agulhas) temporais, que acompanhavam-na sem temor, utilitariamente nos grampos de cabelo.
À voz contida na face inexpressiva de lábios colados, derretidos à cores estampadas na roupa já combinada.

Num ritmo afinado à movimentação da sua caixa toráxica, natural compasso servia sua contemplação de sublime cansaço
Interrogava a palidez diferentemente posta como brilho no (claro) olhar.
Cílios claros de uma verdade, dificuldade tão clamufada no visível...
O impulso de seus dentes perolados de rasgar, ou convidar alegrias num singelo aparecimento.
Compunha da amostra secreta das probabilidades, que sequer necessitaram de suas mãos.

E assim que ela atribuiu o metabolismo à vida, concluiu vitalícia aos detalhes (além da completude).
Ao curvar olhares ao redor, uma dependência clara do condicionamento de seus braços, e pêlos, cartas, incensos, lembranças, e mãos e claridade, e desespero.
Melancólica lágrima que desceu na calmaria paradoxal dos sentidos.

Mudou a ordem e entendimento da cor e do movimento, e sua espécie e amor mudaram de contentamento...

A pureza sujou seus lábios assim que a sedução carregou seus olhos
Não temeu a marca sobre sua pele, do cuidado rosto...
Rastros pintaram suas pálpebras de fatos sentidos.


O agora ofegar ritmado foi conclusão da lembrança de como era sentir como a boneca de quando menina.

Assustara-se um pouco enxergar-se tão transparente numa poça d'água na rua, no frio de sua alma despida
Arrepiada pela junção do seu corpo bruto e da cálida estrela no céu, viu a mesmisse de seu rosto livre como seus cabelos soltos

Na pouca luz da lua crescente, elevou sua sensibilidade e na confiança do tato, impulso do perigo, no rastro da escuridão que acolhia; inventou o tempo que concretizaria sua inexprimível união,
do ritmo incompatível a harmonia, sagrado coração.

Imagem por Amélia Vinhal

domingo, 26 de agosto de 2007

Rendição

No rosto enfraquecido pela não-presença no espelho
Pôde perceber que aquela falta era uma ausência além do corpo, que poderia gritar de súbito com a alma, com ondas sonoras estremecedoras ao peito
E suavizadoras nas curvas que valem a brisa, o vôo da borboleta
e todas as faltas consumidas pelo dia cinza
Que trescalam saudades nos cabelos chacoalhados pelo vento frio...

Apta à transpassar as palavras para a confiança por si só
Deixou rabiscada a sensação da lembrança sem tons proferidos para inúmeras interpretações
Fosse ela mais pura. Por fusão natural de seus perfumes.
Intimidade única, exalada da cor do jardim,
da flor que cortada foi para enfeitar o vaso da sala,
arrumado por tuas mãos;
com novos perfumes, talvez o odor da memória.

O prazeroso virou bonito, enquanto o espaço pra aceitação contemplativa
violou muito da divisão sensível, compartilhada pela finura de certos momentos
Poderiam ser poucos, mas únicos.

Aquela flor é a mesma dentre tantas, porém única pelo cativo
(Lembrara-se do principiado valor).
Sem algemas para o fluxo, há o encanto evazado em tudo que pode-se contemplar,
sem possessões.
As palavras do que já foi visto lhe dizem, a imagem grava.
Significados... não (me) submetem.

Escreveria, assim que houvesse o que viver
Assim que realmente existisse, e além do sussurro de um desenho,
compreender a virtude das palavras, sem entender.
.
.
.

''Deves ter nascido do gomo de alguma flor
Sim! Alguma flor que desse gomo,
da qual parto levastes, na pele de pétala.
Saceia como fruto com teus lábios,
Saboreia-me da seiva que sustentou teu caule
- imperceptível e derradeiro,
amor.''
.
.
.

Imagem por Amélia Vinhal

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Florbela

Andando por vielas largas, seus passos eram cumprimentos diários, encaixes do dia.
Sua cabeleira desgrenhada contrastava com as cores de combinação pouco comum de suas
vestes, porém condizente à sua figura.
Quando caminhava impunha sua figura num brasão claro, moldura dos ares, finura de seus
pares. Precisava haver essa conclusão do dia já tão cinza.
Mas havia uma desordem em sua estética...fugia da comunal exposição, prendia a atenção;
suspendendo impressões de prontidão.
Constatava a percepção da sensibilidade... e sem querer.

Passava, andava, vivia. Simplesmente um elemento ao redor.
Uma passagem da ordem. Uma naturalidade da organização.

E ainda assim muitos olhavam, quase nada concebiam.
Uma satisfação incompreensível à padronagem frisava ainda mais seus contornos.
Não diriam-se profundamente belos nem estrondosamente impressionantes;
porém cativavam, e esse era um dos significamos quase atemorizantes.
Separando em lados, essas eram as aparências dos observantes.

Quanto à ela, a criatura expressiva da existência significativa no espaço que contornava;
era convidativa ao abraço, ao então sentir estas texturas e poder provar aonde havia verdade.
Um pilar mais exato deveria possuir, uma semelhança mais bruta, um aparar mais palpável.
Precisa de concreto o homem para nele fazer seu pilar.
E mesmo com nervos de aço, amolecia o fogo daquele olhar profundo.
Era vasta a longevidade. Mais do que seu sinônimo. Além do vocabulário.
Do entendimento ou explicação.
Isso para quem ainda a sintetizava. Aos que ousavam querer além.

Às falas adornadas pelos ouvidos, ficou um prazer preservado apenas nos gestos.
Não deram conta as palavras de tecê-la com tanta adorabilidade. Faltava. Emudecia.
E completava com presença.
E harmonizava com canções, que sequer ouviram-nas.
Daquela boca quase saiam frutos, deliciavam as retribuições com salivas contidas,
com sorrisos conclusivos.
Ou com distribuídos estalidos das junções delicadas.
Ainda havia quem quisesse neste adentrar. Na finura de braços enlaçadores se deixam manusear. Aninhar-se na liberdade mais acolhedora, quase contraditória, dona sem adquirir.

E à tudo ficou o enredo criado da visão de seus próprios olhos.
Verdes para dar o ar, criarem o oxigênio ao direcionarem-se à qualquer lugar.
Captavam figuras curiosas, experimentavam com outros arranjos de seu corpo os completos sentidos...
No acariciar dos entendimentos com mãos, na condução aos pés,
edificação rígida, impecável da boca; construía significados ao dar vida às palavras e as destruía quando materializava, poderia mastigá-los.
Sentia um poder puro e confortante dentro de si.
E não interessava qualquer conceito de potência ou modelo de ordem.
Seguia o fluxo natural; que sabia que constituía para estes indivíduos e o dia cinza.
Se quisessem mesmo a ordem, naturalizariam o caos
Entenderiam que o dia cinza espalha a morbidez pelo céus e consigna naturalmente a tristeza.
Que tantos pontos coloridos, esbaforidos nos centros urbanos são resultado de um pingo de creme na calça; uma padronagem esquecida pelo exercício das pequenas coisas.

Ousaram querer ter a realidade diante dos olhos, sendo que só pincelaram sonhos
Aquarelas com grãos de areia pintados, desbotados pela chuva.
Quando temem pela chuva, simplesmente não secaram suas linhas.
Apagam-se para em novos contornos se juntarem; para desbotarem a flor
e colorir um coração... o mesmo que estatelou-se ao chão.
E que a poça regou. Pra alguma moça pisar e ao pé fixar.
Crescer como raiz, semear o perfume, ter nome de flor e ao sorrir desfrutar de uma natureza incompreensível aos maquinários.

Morava numa agressividade adocicada pela imaginação.
Passava pelos caminhos construindo possibilidades;
seria pelos homens, pelos olhares, pelas palavras que brotavam de sua boca
que com o olhar que dava vida, fazia concreto nas calçadas.
E atenção indescritível, das tranças aéreas das possibilidades.



"(...) Trago no nome as letras duma flor...

Foi dos meus olhos garços que um pintor

Tirou a luz para pintar o vento...


Dou-te o que tenho: o astro que dormita,

O manto dos crepúsculos da tarde,

O sol que é de oiro, a onda que palpita. (...)"


(Florbela Espanca)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Poetisa

Amolestada por uma mudança brusca dos tempos
Que se perderam em desconfigurações das previsões
Não se sabia mais quando chuva, ainda mais quando Sol;
e todos os ventos declinavam vários horizontes...

Seus olhos já estavam cansados de imagens prontas e vastidões consumíveis
Não soubera mais se deglutir e sobravam as migalhas de pão e gotas de vinho à suas roupas e chão...
Não cabia mais metáforas ao céu, rastejavam as palavras ao chão...
Plainavam então ao ar os significados e respirar sem som era o tom mais vasto.

Por isso a moleza de fim de tarde e sofá companheiro... por isso a vida quase monótona de jeito desfiladeiro nas pequenas coisas
Ninguém vira ao canto da sala a poeira consumida do tempo
Pela vida morta na poeira... fruto do desperdício da percepção
E dos paradoxos racionais.

Que as impressões emocionais formassem mundos
E contemplassem dias
Cultivassem novos signos pras dores, e fizesse do devaneio mais finito,
a eterna poesia.

Num canto escorada, pela mudança esquecida do tempo definido
Que mesmo com Sol ou chuva, deixam ela no meio do horizonte...


segunda-feira, 30 de julho de 2007

1 minuto

Suficiente pra entregar o tremor das pernas e constatar além dos olhos.
Levar adiante a ação do verbo e causar tragédias literárias.
Provocando idéias, abrindo o solo com o passo mais leve.

Quase sem penúria pra ser movimento pra
relógio e encontro.
Atraso suficiente pra angústia engalfinhar a paciência, encher com pranto os olhos, pra lágrima sentida no ombro doentiamente calmo da despedida.
Suficiente pra mudar uma posição e comprometer uma vida.
Tão raro quanto as cenas verídicas; a realidade pequenamente embutida como razão.
Ilusão comovida dos poetas, metáfora esbaforida da imaginação.... para o corpo estendido em qualquer canto era alongamento de respiração e vitalidade.
Sem piedade pra contar nos dedos, roía as unhas em desespero do livramento... buscava lugar para o que encontrou como se guardasse pistas de um crime horrendo;
por cometer o resguardamento do pudor naquele único minuto.

Aonde brotou o gosto de sua boca pelo corpo do desejo; longe de suas razões quase sempre fixas na relatividade.
As cores vibrantes desbotaram da parede em que se encostava durante o sono... coloriu sonhos, e seu corpo
Ficou como crepúsculo, encenando um fim inspirador.

No empirismo cotidiano, reinou o cansaço de se saber acalentada por cada unidade
Idealizando ela cultivava mais e mais...
O mundo parou num minuto, aquele estado de semi-sono fez de tudo, inerte.
Naquele minuto foi.
Naquele minuto não contou com nada.
Pois naquele mesmo minuto não era ela que atribuia.
Era o simples minuto que existia.
Visão de um minuto eterno, ela persistiu na lembrança, na unidade primeira:
do um pra constituição......

O rosto corado foi só circunstância, não dizia mais nada pois era reflexo dos objetos daquele nada.
Nada mais justo. E arrebatador.
Pois num reflexo ainda mais detalhado desse espelho a figura colocava nos objetos a sofreguidão da justiça.
Sincera demais, sua boca calada só conseguira ingerir silêncio.
Não mais ludibriada, consentida do minuto que já fôra. Agora era e não precisava mais de nada.

Ficou a marca na estrada dos freios, da parada.
E seu corpo estendido conseqüência do ato impensado.
Foi só um minuto e uma resposta.
Olhos que não disseram nada além da voz que quisera-se ouvir.
Cruelmente sábia, guardou no bolso as mãos, e deixara os minutos ao chão.
Quando isto era ela, previsivelmente sabes onde encontrá-la.
E sem piedade das horas.

Na contagem regressiva, esfoleou-se o tempo, restou a poesia.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

"...Vento solar, estrelas do mar..."

Caminhava à passos normais para sua velocidade concentrada
Observando o arredor com a vista progredida em torná-lo paisagem única
Podendo a cada posição saborear o ângulo do significado sobre o espaço
Por aquele tempo.
Não lhe importava que determinados seres humanos espalhassem o contrário desta figuração
Desde que lhe criaram o poder da língua, engataram-se as sombras das palavras na luz da expressão.
Pudera ele olhar para essas figuras e assimilar seu contorno para a sombra ser ciclo conclusivo, e não corrosão em armadilhas presentes para a posição viva.

A plenitude de uma coloração única, intensamente sua ao céu descia em faixa envolvente à terra,
Enlaçando-se na brisa límpida as almas transeutes nas praças, ruas, lares, manicômios e plantas à vista desprendida de vocábulos - quando ligados à sua estatura tecida, tão ainda pequenitude!

Passos abriam o chão na visão levitada de vôo possível sem grandes modificações,
um lado seu entregava-se ao dedilhar silencioso das probabilidades renovadoras...
Já houvera a natureza inerentemente trazer vento à permanência completa do Sol,
e pontiagudas estrelas na infinitude marítima
Que custava-lhe cancionar as asas próprias em queda celeste e luz irradiada com água acima da cabeça?

Ancorando a brutalidade enfadonha dos relatos fabulados, o ar frio era permanência do aconchego encasacado pelo corpo que em contrapartida despia a alma para o mergulho mais profundo que pudera compartilhar com todos os seres na paisagem.
Ao caminhar assim, à passos lentos para a perfeição inexata que todos os dias lhe era dada...

Espalhando bilhetes à ventania amada, pois o chacoalhar das folhas era o vestido que guarnecia a matéria concreta de seus sonhos
Delicada sensibilidade figurada nos lábios coloridos compastados com a razão estética, nas flores estampadas; interligadas à cada esfera pequena na forma, e explicada no movimento do tempo.
Que lhe ocupava com uma caminhada atemporal o suficiente pra lhe conceder uma fraca Lua ao céu, enquanto o Sol lhe aquecia.

Pequena vista muito alongada, eram sonhos, desejos escorridos à perfumes e uma única data.




"...Sol, girassol, vejo o vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar, estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo..."


Imagem por Gatz (www.fotolog.com/gatz
)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

EVidências

Acordou aturbulado por uma sensação prolongada de seu sonho, aquilo que era ''bom demais para ser verdade''. Porém, nunca fôra muito crente nessas expressões generalizadas, e enquanto aos sonhos, deixava sua ignorância declarada - num acentuar de conhecimento vago.
Depois dos atos quase reflexos do despertar para um dia, calçou, andou, escovou, derramou, sentou, encheu, passou, mordeu, pensou. E sentiu.
Querendo ou não, a fragmentação do significado dos sonhos ficava na sua cabeça como qualquer curiosidade que se espera ser explicada por alguma ciência conformativa. Mas se infiltrava bem na mente... não dava grandes créditos à astrologia, magias; sabia que existia, e acreditava no que poderia. Talvez com aparência oportunista, mas sensibilizava cada fato pela sua percepção.
Aquela sensação do quase real fixou um dèja vú, e todas as probabilidades que lhe poderia; mas novamente não era fato e ele descartou previamente. Prosseguiu nos atos e levantou, depositou, lavou, procurou, usou, arrumou e saiu.
Fez ao longo da longevidade da duração da sua obrigação meio desgastada. Quando pôde, avistou na janela cada elemento que nos frizos das horas marcadas distribuía com sol, pessoas, movimentos, reflexão quase atos do feitio que realizaria. E realizou.
Ainda fixado no pensamento comum de involuntariamente perceber que à cada telha, sapato, vitória-régia, ser existente, ele enxergaria uma ponta vitalícia que escapava pelo meio das mãos de outros ser sobreviventes que não se importando, provocavam sua própria degradação.
Sim, ele sentia muito pelos redores, e pela suas forma de andar, vestir, à muitos era frieza pré-conceituada. Mas não se iludia em receber o que queria, auto-conversão era uma etapa tão necessária quanto suas refeições. Nos livros, discos e palavras que derramava no papel, que contornava na fumaça do cigarro, que desgraçava nos seus vícios.
Em passadas calmas em meio ao crepúsculo apoiado a sua localização, em mais uma etapa da vivência diária, sentiu um perfume delicioso, encantador, sedutor na forma material imoral que seus pensamentos fantasiavam na sensibilidade calada pelas sinfonias populares. Ali então se importou. Circulou os ares ao olhar, em busca da fonte dessa perfeição. Mas nada avistou que pudesse ser tal progenitor. Encantou, mas perdeu. Ficou, restou, suas reticências à imaginação perseverante confirmou... mas continuou.
Titubeou, e num outro terço do relógio e seus atos cronometrados, estava num banco, à espera de nova feição, pelo atraso da hora, atraso dos atos que ainda pensava que atrasavam os anseios de todo o ciclo quando se regravam. Mas a difusão de idéias estava à peito aberto na espera da palavra certa pra lho dizer.... numa bolha colorida o suficiente pra formar arco-irís de sensações à miscelância da leitura. Lembrou daquele perfume. Mas não pulsaria a paixão por mais forte platonice que ele cultivava.
Porém desviou com golpes de pincel da alma amante da figura artística para às formações livres na compenetração letrista em estradas infinitas... E desviou seus olhos trazendo nova atenção, destituida de pretenção.
E então houve a queda da estrela do céu que hoje não a abrigou... num relance de vista, numa passagem personificada, largou a indigência de seus sonhos e pesares naquela matéria avistada...

Olhos bem delineados, como pérolas contornadas por traços pretos em ressalto à estética priorizada. Tinha um olhar majestoso que se ondulava aos deslizes de vem-e-volta que o ar ao passo dava à seus cabelos; e o perfume que não dela sentiu, era aquele aroma tão agradável que então quase gosto fez à sua boca - o mesmo pela tarde, aonde ele - como ela, ali - apenas caminhava. Se doce estava como o amor, é porque o gosto já existia. Mesmo na figura desalinhada, capricho que melhoraria na promessa interna re-feita todos os dias, as contradições que se impunha, os sorrisos solitários, e vida compartilhada sempre que tenuamente abrigava em tudo que existia - aí provando que não precisaria crer pra ser.
Teve a impressão de o agora ter deslizado ao aqui, num capricho improvável de que significados comuns eram fardos de momentos perdidos sem entendimento.
Naquele instante, o sentido fez fato, como o desabrochar de uma flor no marco de uma estação.
E alongou os sentidos na pureza do que resguardava, numa metáfora do que ali viu.

Soltando aqueles cabelos na medida da beleza que posicionaria à paisagem tecida nas ondas caóticas da sensibilidade aflorada, textura da saia, do movimento dos braços, numa moldura frágil da imaginação pintada pelos seus segredos, 'mil segredos delicados'...
Lambendo os lábios de contemplação despertada para ação, pôde ver junção nas marcas finas de seu dia.
Era um ressalto pequeno da grandeza que ele não pudera segurar consigo. Sorrira internamente sem precisar guardar desejos realizaveis. O gosto daquele pêlo, daquela harmonia que sintonizaria na devida voz aos quatro cantos, eram as aparências de cada passo e as dobras da folha em branco... Faria desse instante o pouco eterno de inspiração sem comando guardado.
Poderia nunca mais a ver, mas poderia eternamente num segredo evidenciado em cada ladrilho que ela pisar, ser.
Ali foi tracejada, uma forma pro destino. Ainda que dissipada, por cada novo domínio, era e então ele crêra.

Aí sairam os termos e ele compreendeu que a generalização era a sensibilidade oculta em cada sílaba não-dita da palavra realmente consumida.
Na evidente auto-censura da própria percepção.

Imagem por Amélia Vinhal

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Escultura literal

''Ela vai mudar,
Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou
Pelo jeito não descarta uma nova paixão

Mas espera que ele ligue a qualquer hora
Para conversar
Perguntar se é tarde pra ligar
Dizer que pensou nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido

Que é sempre amor, mesmo que acabe
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou

Ele vai mudar,
Escolher um jeito novo de dizer “alô”
Vai ter medo de que um dia ela vá mudar
Que aprenda a esquecer sua velha paixão

Mas evita ir até o telefone
Para conversar
Pois é muito tarde pra ligar
Tem pensado nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que

É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou

Para conversar
Nunca é muito tarde pra ligar
Ele pensa nela
Ela tem saudade
Mesmo sem ter esquecido que

É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou.''


E não existe mais desculpa, só as farpas do tempo...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Ademanes...

Mirando la lluvia, ello sentia que sus ojos no eram los unicos que desaguavam. Estaba en secreto consigo miesmo; las flores marchitaram-se como su ánimo. Miesmo lleno de tiempo, de personas a su lado y abrigos para no sentir frío, lo afeto era ausente. El negro de sus ojos parecian más tristes, su face delgada llebava indecisión en una gran marca que la miesma mano que lo gusta, (ella) allí, estaba vacía, e había solamente una saliente recordación... pero sus manos estaticas resplandecíam esto frio que lo cobria.
La ausencia dos pelos negros, trajes finos, zapatos cuidados y amor en demasia dejaba su persona muy flaca, siempre a espera de días de Sol para hacer melhoras a sí, y claridade a lo retrato que sus manos tremendo no largaban.
Allí, con los rasgos físicos de sus gestos pasados y ademanes, los ojos hundidos a lo dicé que nadió lo va saber...
Ella, haga algo especial en su vida, y lo secreto hasta debajo de su forma... apenas, tiempo.

domingo, 8 de julho de 2007

Trajetória

Passando e fechando o portão, aqueles dois corpos faziam o premeditado ao dia estabelecido
Eram dois mundos, grande e pequeno na forma que habitava o espaço de tempo e crescimento
No enlaçar de mãos para a continuidade de passos, sensiblizou o contraste de temperaturas corporais, enfeites do estado como as flores que cairam das árvores

Não prescendia a igualdade na reciprocidade de movimentos
Um alegremente falava, impulsionava a grandeza esperada na chegada que buscavam naquela ida
O outro fixava silêncio, pois as palavras vagavam ''insólidas'' de seus sinônimos, sem peso para deixar a folha arrumada; no vento colhia os versos para seu sossego
E ali no tempo indeciso, as condições ambientavam-se na rota fluida de casa para casa

Um prévio desalinhamento das órbitas colocou o juízo consentido à linha curvada que os faria soltos das mãos por algumas horas
As condições postas foram se alimentando, e o mundo pequeno estava se completando da alegria que tinha na explosão das estrelas que à pó forjavam sua alegria no momento assim aguardado, agora então realizado com outros mundinhos...

Ao outro se deu a rota da volta do caminho, na constatação do sentido sensível em cada elemento que dissertava sua colocação
Vira seus pés, pernas e braços acolhidos no confortável tecido que a protegia, e as pontas enroladas, extensas de seus cabelos, figuradas na possibilidade de vista sem seu encontro ao espelho
Hoje a estética era padrão torto, não estava a busca de perfeição e nem pensara em o fazer para poder o dizer assim convicto

Assimilava limões, plantas e flores ao sentido do que eram naquilo que estavam
Eram figuras de um tempo, como limões, plantas e flores; molhadas pela chuva de agora e por si e a falta de vento: cenário daquele personagem inexato que a avistava
Uma casa lhe disse a descrição da canção que em todo o contexto a diria brilhantemente
E selando a quebra do domínio, separou os lábios pelo tom vocálico:


"Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar

E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela, a primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota

Canto que é de canto que eu vou chegar
Canto e toco um tanto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais."


E grosso pingos de chuva passaram a ali cairem densos, como o confirmar atemporal dos próprios senhores do condicionamento - que mesmos inspiravam suas fugas pelo nome de sol e chuva
Ao seu lado carros passavam, ao alto árvores a protegiam de um molhar intenso, e a melodia compassava os sentimentos em passos de lembranças, sensações ali postas, só conferidas naquela evazão de consciência sentimental...

Passara o apego do lugar a ter sentido na solidão que torturante à visão alheia lhe conduzia encontro
Não julgava nenhuma suficiência, porque gerava à tudo em passos adiante; fosse em falta, ainda o saberia.
Não atropelaria instantes pois não queria lamentações adiante
A longo prazo brotavam os instantes derramados sobre a folha, que o sossego de estar sentada os produzindo forjou



Isso então quando passou do portão e se disse adiante do portão, portas, assoalho, mobília e destino de própria preservação
Quando a canção mudara outros versos descreveram a órbita, mas dividiam o mesmo sistema
Ao menos na passividade deste dia ela não tracejou rotas para seus passos, e sua rotação não previu nada
E num aguardo sem ansiedade frenética aguarda o realinhamento ou nova eclosão espacial
Para que as condições do tempo aguçem sua percepção, e que de mundos em mundos ela viva o instante em libertação...

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Aguarde o fim dos tempos

É preciso ser uma Maria, é preciso ser um João
Pra não cair numa rotina desgastada da solidão agrupada no conformismo da obrigação
Na beira da calçada avisto o céu limpo se formar e homens e máquinas não se ajustarem a diferenças gradiosas
Frio como aço e empenhado na ordem
Ordem sem progresso, pois as letras de seus lemas já cairam, e grande parte mal o sabe ler
Dele retiraram o amor e o regresso só fluira como lembrança do caos
Mas os operários sorriram achando figuras na fumaça agoniante, pois não se acham mais nuvens puras
Um pouco de verde se têm, mas daltônica está a vista ajustada à concreto da construção e consumismo
Sendo que o mais rarefeito ar está nos exterminando
Como a erva daninha que o seu prato principal que já foi vida engoliu e você na cadeia alimentar, erdou de presságio para o rebanho
Nova carcaça, admiráveis gados novos.
Já sem pasto, e contentes com a figuração
Uma era de reprodução sem criação
Nem de desenhos, nem de filhos
Mais uma estatística, mas um dia que começa, e evolução nos pisa, mas é o dilema da salvação, no livro da pregação de milhares de anos atrás debaixo do braço ( e desgraças debaixo do seu nariz).

Conformados com o pobre ser feio, porcos sujos, rico bonito, o diferente impossível
Deus supremo e Diabo mais dito; valores estagnados nos pecados de a.C.
a Era Vulgaris gasta dinheiro, implanta seios e fala de amor verdadeiro

E criam-se mas vias de sustentar o que não traz felicidade, mas di$córdia, fal$idade e desumanidade que já não tem sentido, é detalhe, lamentado;
o salário e uma cerveja aposta que o Flamengo amanhã vai ganhar, e a Rita mês que vem vai se separar.
Indícios de uma mudança brusca, pra estagnação corrosiva da ruína e completude da não-evolução.


Aponta-se o culpado sem olhar pro próprio nariz, e edifica-se a culpa e diferença sorrateira do Sr e do João que todos os dias afirma sua negação
Espera a quentinha das mãos frias de Maria, que se prepara pra retalhar as verdades que são panos à céu aberto
Alienar as vestes e incorporar o corpo de fantoche
Ser mais condicionado e no fluxo da salvação
Deixando a vida na cesta à pedir louvor e se quer estender a mão pra teu irmão que na rua faminto lhe consultou.



Você me ajuda, e peço que Deus lhe pague
Meu dinheiro é suado, confie mais nos padres.
A mentira é interesse, mas a verdade é uma visão
Economistas falam de visão de mercado; não sei o que significa só sei que inflação, não é bom não
Folhear o jornal pra ver desgraça não vale à pena e horóscopo? Hum... quem sabe não tenho a sorte de ganhar na Mega Sena?

Não sei porquê, mas as pessoas andam se odiando demais, é tanta falta de querer mudar que a vida corrupta só tende a crescer...

Mas se a Maria e o João não arrumarem rupturas, até onde vai a podridão?
Costurar a chaga da ferida e tapar o buraco do ladrão resplandecem a roupa rasgada do mendigo e estruturas faveladas
E lá no Congresso, a ordem e progresso anda bem, agradecendo o sim que você concedeu.
E então, não há Deus que pague a comida de teus filhos e o amor da mãe desesperada porque a morte de João foi de bala perdida e dói como alma vendida...
Alvo da mentira que se espalhou na avenida...
De que haviam novos tempos e a consciência foi descoberta; mas a oferta na esquina só ofereçe um buffet com sobremesa grátis, e nenhum tipo de vida melhorzinha...


Houve uma mina descoberta nas calçadas, implantação da cobiça exasperada pelo combustível da conveniência, estuparam a inocência afim de adquirir seu líquido pra dar um tom mais realista às bonecas das filhas de toda Maria
As bolas eram recolhidas na esmola do pequeno engraxate, com o sonho reciclado
Por pouco não falido, pois no chão estava todo o lixo
O cestos já estão cheios de orgulho, e a multidão espera pelo Messias que recolha os bons sofredores
Lá na praça pública foi convencionada a convivência frívola, os senhores trariam cores pra devoção, novos ares, belos rumores
Fosse o que fosse, sairia de nossas mãos
Eis a energia forjada... a bomba atômica está nas mãos dos escolhidos.



Enquanto isso, cantamos o popular, dançemos pra pegar o amor alheio
Esfregamos corpos pra ver se sai algum líquido suficiente
Pra lavar a alma desse povo penoso e dessa culpa crescente

Um nó na garganta dos que esperam ansiosamente, pelas portas abertas sem um fundo de percepção...

E pra velar João não houvera nenhuma flor, a chuva renegou-se à cair e a misericórdia não floresceu
Agora o tempo passara e não tinha propósito pra se acreditar
Fosse a morte o ponto de exclamação conformada, o calibre da represália assolaria cada furto, cada memória póstuma da dívida herdada
No sangue do índio derramada e no sangue do boi de tua morada

Hoje bebemos o líquido da vida consumindo a morte
Eis a vida se contradizendo no dilema da solução
Sustentamo-nos violando.

Mas é um ciclo, crie sua pequena Maria, a vida está começando pro pobre João
É preciso ser cada um deles pra continuar
A vida não pára e o tempo não espera
Pra não morrer imprestável seja mais um fraco, mais um coitado.
Esperando por Deus e seus anjos misericordiosos... No fim alegre, de nossos tempos.
É um absurdo?
É o que dizia a placa do postinho:
Aguarde um momento.



Confiar. crer. ser. restaurar. reciclar. renascer. dar um passo. sobreviver. não tem esforço, você simplesmente passou a ser.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Matérias

Laranja era fogo, ácido e a cor do cabelo (desejada)
Verde eram olhos, campos e personagens de suas risadas
À azul o céu borrado com o branco sem definição.
Vermelho era a fruta e a cor que transpassaria uma correnteza para aquele dia...


E então os dois deitados. Corpos que dividiam o espaço para serem juntos, por si.
Na altura direta de olhos, rostos com todos os traços alinhados, opunham-se à postura extraviada do correto, disciplinado.

Ela sempre gostava daquele momento. E ele também. Estavam juntos, e isso era um fato bom de se dizer até consumir - nem que fosse só por acreditar, era.
Ali não existia espaço de tempo para ceder a possibilidade sôfrega da ilusão. Ao menos na linha direta de um desejo não era. Nem no fluxo do silêncio. E a corrente que formava a aura das sensações, em grilhões de lembranças póstumas.
Tempo que passou e ela anunciara quando passou a dizer aquilo que dentro de si palpitava longíquo, mas perto dele, especialmente, perdia as leis da condição da física.

Começava com idéias subjetivas que aquela atenção inocente lhe fazia perder a diplomacia e acabar em profundos desejos, medos daquela sombra de tempo e falta de sustentação. Lhe expunha todas as questões já resolvidas, das quais ele com sua docilidade sensata só apontava os pontos finais guiando as mãos dela com um olhar.

Seu amor triunfava com uma aproximação tão cheia de ternura que nela acomodava fundo; aquele receio de cravar e não-mais sair, posta a condição do não-durar, o tremor de machucar era incalculável. E na perdida velocidade da expressão intensa, a medida resguardada da angústia se fez em lágrimas explosivas que ele secava com o aconchego de seus ombros e amor imponente na compreensão abrigada.
Ele a fazia pensar em só sentir, e suas angústias forjadas pelo carinho se desistiram; aquela manhã tão cinza se passara nos olhos de cor diferente que a fez vivenciar o período, mãos de produção colorida, mosaico do coração.

Ela acabou adormecida pelos gestos que deslizavam as curvas abissais do amor. Feitas pelas mesma mão e mesmo desejo. Não dava mais tempo pra fugir e nenhum atalho se parecia fugidio, e nem tinha forças no corpo estirado e peito aberto.
De qualquer modo, era mesmo amor.


E ela não esperava mais contar com as possibilidades. Porque a espera é um ensejo do tempo, e ali ele não existia.
Se havia o medo da sustentação, que deixasse o amor a consumir; se arrebataria um peso e pronto estaria o vôo.
Com as mesmas asas que a densa noite lhe fornecia no acalento das mãos preciosas que a embalava na opressão inocente do amor inexpressivo. Porque era só naquele momento e aquele olhar que ela via na vontade de suas mãos que completavam o ensaio deste instante.

Eles então se sabiam no tempo que para o aconchego não existia, no intervalo de tempo do pensar na rotina e libertação dos corpos com o salto da alma para aqueles mesmos corpos; concede a alma no dia que pesa a mente pensante.


Não larga nunca minha vida, surto de amor prestante!


Assim ela esperava que ele sonhasse na sua companhia. Deitada sobre as cobertas que no peso do corpo delinhavam a figura dela sozinha.
E alinhada pelos par das mãos, dos pés fugidios, e todo o corpo que de coração à alma figuravam no par a expressão dos sonhos, e da fantasia realista que nele se encontrou.
Assim se acabava sem a ilusão de um final feliz; pois batia o sono e o ponteiro desgastante do relógio propõe as matérias em cada lugar que se apetecia, e o chegado momento de dizer o que lhe guarnecia...Nos dois à par das matérias, que fica simplesmente dita e sentida com expressão de sorriso e calor: te amo.




Na matéria estalida de gelo, fogo, pedras, aconchego e espera; são fluxos, ventos, sorrisos e um fluxo de entrega dada pela intensidade do nosso sopro.
Ânimo de amor, caminho de isopor. Branco para coloração ficamos aquarelando os sentimentos na paisagem de cada instante nos dado. Se posso sonhar, não me frusto com tua não-chegada.
O corpo se degrada, e a alma... ressalta.



"(...) Tu cairás comigo como pedra na tumba
e assim por nosso amor que não foi consumido
continuará vivendo conosco a terra."
(
(Pablo Neruda)



sábado, 30 de junho de 2007

Existência/Hábito

Enquanto arrumava a casa, procurava encontrar a si em cada espaço pelos pertences que ali, dela/por ela ocupavam
Sabia que aquilo ainda se estenderia pos alguns anos, mas mesmo que parece pouco e mais fácil, ela sabia e considerava os atritos indomáveis das vontades (quase crueldades) dos instantes.
E instantaneamente caía numa reflexão existencial.

Existência - o que lhe daria, seus frutos, colocações em produtos - então sem tempo e fatores que questionavam a existência da existência.
Existência que não precisava ser sua. Já que se sentia muito pelos outros, sabia também que nos outros se teria sem esforço.

Ela projetava na sua cabeça cenas como lembranças de outrora
Sentia em seu peito um palpitar intenso que despertava desejos e o querer de certos acontecimentos que podiam simplesmente sê-los.
Mas a possibilidade constrói sonhos, move vontades, faz com que o hoje seja uma certeza doce, garantia para amanhã.
Ainda vivia com/por outros e sentia aquilo já parte de si, inerente pulsar.

Como se preparasse uma receita para seus dias seguintes,
numa panela fervendo de vontade vitalícia: colocava os grãos amarelos de Sol - disposição do céu; e pipocavam saudades, lembranças, beijos perdidos na freqüência cardíaca como chama.

Fantasiava a possibilidade de infiltrar suas mãos nos ponteiros do relógio, que movimentados trariam junto com a paisagem requerida da imaginação, aquela concretização.
(Como se o tempo era abstrato?)

Seria um balde de pipoca com uma história cinematográfica que acompanharia o frio e faria desculpa pros corpos unidos no sofá com atenção acorrentada ao envolvimento da presença recíproca
Ao que tudo traduzia à lembrança de seus sonhos e o fio na barriga retocado no olhar que era o que mais desejara.
Olhar nos seus olhos e lhe chamar de amor.
Lhe figurava como o que tinha, melhor podia e sentimentalmente era.
Não diria "realmente", pois amanhã este mesmo fato se esvairia na poeira da ternura; o pó da lembrança do amor.
(No puro abstrato em modificação plena concreta)

O calor do entrelaçar puro de mãos, braços, corpos e certezas mudas das juras ditas em silêncio
Na frente visível do aconchego manual do amor
E da expressão dita nas canções escolhidas a dedo, por conssonância coincidente das vozes.
Agora poderia pensar que fosse só seus próprios desejos se ditando e modificando o sentido para ver o que queriam, mas havia aquele enlaçe da existência
(então nestes laços cativados).

Organizava as gavetas e sentia cada gesto novamente visualizado, mas na ânsia do sentir repetido...

Poder olhar naqueles olhos e não dizer mais nada
Esperar que ele os visse
Não era apenas ver seu reflexo dentro dos olhos alheios e visualizar falhas e apontar suas culpas
Sentir ameaçado por uma lança que apontava seus medos e afiava sua falta de confiança própria
Mas ele era dentro dos olhos dela, e se figurariam por ela.
Encontrado naquele interior como peça para encaixe,
seus erros apontariam superação
E suas angústias um não-fazer da sua força confusão.
E se ele tivesse então olhado nos olhos dela, veria no fundo sua alma pequena, mural que identificava-se na expressão do amor.

Mas eram partes da existência,
e os laços romperam quando outras peças foram cobiçadas e esquecidas de procuradas, pois se acomodaram sem querer na perplexidade do contemplar.
Faltou um pouco de busca, e ela agora se organizara.

Mas foi um achado de surpresa a nova descoberta da velha peça na gaveta,
como o novo passo de suas memórias que sentiram com desejo

O gás tinha apagado e a comida esfriou; não a comeria pois não esperava vingança
Ainda estava no estágio cru.

E lembrou do que ele esqueceu:
o desejo se saceia,
enquanto o sentimento só se alimenta.

Despertou do transe que teve ao fixar seus olhos nos olhos do espelho - que eram sua alma aberta como janela.
Fechou a gaveta e pensou em tirar as peças que não lhe serviam mais

Sentiu um cheiro de queimado e viu que esqueceu algo no fogo
Nem que fosse um tempo pra aquecer, a receita estava errônea
Tinha na sua frente os instrumentos da mudança.

O desejo encontrou seu caminho e o sentimento estava espalhado ao vento que escrevia seus ingredientes no degustar puro de cada instante.
Um olhar para seus olhos, um gosto para seus lábios.
O amor para dentro de si, como um hábito.


Imagem por Amélia Vinhal

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Meigo-no-hashi

Às vezes ela se assustava com as coisas que ela não via sair, mas que bruscamente estavam à chegar, ou ali estavam.
Porque tinham vontade própria, e mudaram apenas porque ela estagnara.

Só que naquele instante ela viu com o que dava a fonte de ilusão ou de seguimento não era apenas idéia, pois forjava um caminhar e um lugar diferente do devaneio do pensamento - quando estalado no som da chegada, como um pulo - eis o salto do movimento; no pensamento e até então estático redor.

Acreditando que até as sombras poderiam ter a força irreal da vida consciente
Ela representava seus atos com o receio e acolhimento desta liberdade quando dia à dia ou secava suas lágrimas, ou refletia seu brilho no Sol.

Quem sabe fosse a força de uma poesia não-lida em unção completa
As reticências que dentro de si ficavam quando se lia na verdade alheia era um pouco mais de si que quebrava seu casco

Mas não negava o susto brusco que tinha quando o desgosto de ser consciente lhe atacava
No meio do ato mais bonito, e do amor que achava expresso, ela via a falta insegura que poderia lhe causar grandes complexos
Talvez estes mesmos haviam se superado e soletrados em conselhos.
Porque sempre algum tormento garantia um abraço e a certeza de uma importância humana manifestada, numa carência involuntária.

E não adiantava fugir de pessoas que ali em seu peito estavam, porque na forma da folha e na cor do fruto estavam - mesmo distintos, a matéria da vida os forjava, e completavam-se quando vindos de um ciclo e configurados num mesmo caminho.
Nomes eram ditos, e as palavras mesmo que diferente escritas, tremulavam com a razão que identificava a a letra para a lembrança e emoção que bloqueava sua propulsora, à só se deixar, sentir.

Mas ainda esquisita, pouco explorada
Sem a culpa deglutida de si ela se confeccionara fraca por muita força.
Quando sua consciência a derrubara, uma emoção indigente a atacava... Com o nome quase tatoado de sobressalto na pele, ela via que a intensidade da repulsa era só um refúgio do amor que se escondera com a forma de consciência.

Refletiu num instante quando deu seus passos e viu tudo no mesmo lugar.
O que guiara foram os pensamentos e com razão, emoção e contradição forjavam aquilo tudo.
Estava com os pés fora do chão, na vivência plena deste.
E não poderia nem precisaria ser outro momento.




A consciência lhe deu as horas, e começava uma segunda-feira
Colocaria na cabeçeira os pensamentos para amanhã vê-los num movimento da vida.
Estes mesmos na forma sentimental e bruta, pessoal dita.
Contemplava boquiaberta no mesmo paroxismo interno que os pensamentos voavam como borboletas
E no vôo de amanhã, precisaria de si mesma.






"(...) "Meigo-no-hashi: A palavra meigo é composta por dois ideogramas: mei (ou mayoi: perplexidade, dúvida, ilusão) e go (ou satori: compreensão, entendimento, despertar espiritual, iluminação). Em outras palavras, Ponte entre a Ilusão e a Compreensão. (...)"

[Fragmento do livro Musashi (Volume II) de Eiji Yoshikawa]


Imagem por Amélia Vinhal

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Sinal

Então na rua. Cercada por prédios. Tráfego de carros. Seres dominados pelo espaço.
Pisando no meio-fio.
Aquele meio-fio.
Diria meia passagem, o começo de um esboço. O sustento de sua espera.
Talvez estivesse exagerando, mas é essa a sua situação.
Condenada pelo movimento dos pensamentos que não acompanhava seu ritmo, ao redor lhe olhavam se não indiferente, curiosos.
Mas era apenas um cabelo amarrado de um jeito qualquer, uma bolsa de lado e uma moça que espera como todos ali naquele lugar.
Bem, se soubéssemos tanto assim dos outros, talvez não teria porque sempre se questionar dos mesmos.



Mas já estava acostumada.
Os segundos infinitos em definições se passavam compactados nos minutos que ela ficava na espera pelo sinal.
Não que estivesse desnorteada, mas esse lhe daria um fluxo mais retilíneo.
E aquela espera não gerava nenhuma expectativa, afinal ela fazia esse trajeto todos os dias.
Quase sabia dos mesmos movimentos. Mas tem dias em que um significado muda perante a ação ocorrida. Seria talvez o princípio de busca que ela buscava e não sabia.
Ela só queira mesmo aquele sinal.

Mas ao mesmo tempo receava por ele.
O adiante era indubitavelmente incerto...tá, tudo bem, o cotidiano era quase sempre igual, mas nunca se deixaria as possibilidades de lado. Nunca se sabe de nada nesse mundo recheado de tudo.
Ela rira sozinha....esses paradoxos loucos a deixavam quase na mesma realidade.

E olha que só queria um sinal.

Quando chegou estava amarelo, não deu tempo suficiente e a espera se alongou.
Saira atrasada tentando adiar um pouco, pra ver se conseguiria mudar, tomar mais segurança.
Sabe, não se precipitar, ser rude e pisar naquilo que não queria tirar vida.
Por isso sempre cuidava quando andava nas ruas...Não olhava tanto pra baixo em função de desânimo ou daquela busca cretina por moedas perdidas. Talvez nem percebesse.
Preferiria zelar um pouco pela vida, nem que fosse das plantas. Mania esquisita, mas os próprios homens não faziam este.
Às vezes se questionava, mas era rápido, talvez não fosse a hora certa de mudar.
Claro! Já estava na hora de sair...

Por isso talvez o cabelo desrrumado e tudo soando estranho mesmo proferindo os mesmos cumprimentos e todos a sabendo - quando a viam.
Bem que poderia ela se condenar por tudo o que se passava. Os outros não conseguem apontar o que sente-se; invocá-los nessa hora poderia ser uma boa escapatória.
''Ah! Mas que ridículo!''
Essa filosofia de botequim....bem, estava perto de um. Hum....deixa a realidade deles pra outro sinal.

Oras, mas que sinal?
Ela já se perdera nas trilhas avoadas de seu pensamento.
E aquela insegurança se concretizou numa faixa à frente.
Viu que poderia ser segura, e que vultos seguros por ela passavam.
Mesmo na metade do fio, no começo do contorno, do outro lado tinha continuação.
E ela estava na espera da cor vermelha - era lendariamente amor.
Sabia disso, esperava o verde.
Verde = Ciúme? Poxa, era isso o que lhe atrasara, lhe aturbilhara e fizera passar uma possível borracha na linha contínua de seus feitos e segurança.
Mas o mesmo fará ela caminhar à frente, afinal, pode superar.
Naquele outro meio-fio, no outro ser pensante que se intercala com a segurança e os sinais.
Seus significados são nossos.

Não lhe interessa o cabelo desarrumado.
A bolsa só tinha bagagem que enfeitara o cenário que ela figurava ali.
Mas olhou adiante e deu um sorriso. O sinal estava verde.
Já podia passar...E ir antes que o vermelho do amor lhe paralizasse outra vez.
Se estava adiante e mesmo insegura, é porque andara.
O túnel do tempo dá ilusão. Mas a sinaleira até que auxilia na condução.


Imagem de Amélia Vinhal.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

2ª pessoa do singular

Ela estava aconchegada num meio em que à braços de um desejo se transportava
Pra um sentido simplificado, mas sabia que seu.
e mesmo que impaciente, nem produzida como estava, se entregaria.

A calça nova já tão confortável se diria batida, jaqueta normal, um vestuário propício para a morada, não enriquecia a situação que tanto querera - e pudera agora confortar na imaginação.
Hoje era mais um fato no discorrimento da vida.
Mais um dia com as lamúrias e suspiros da passagem cotidiana comunal
Mas já passara pela fase do dia de refletir ou debater.
Usava o cansaço ideológico para contorcer as possibilidades.

Mas havia uma disponibilidade tão grande em ser dela, que qualquer fragmento abatido tinha garantia.
Hoje seu coque, unhas e dedos passaram pelo de costume, mas se sabiam bonitos, com algum tipo de charme - fosse ele de satisfação própria.
Porque naquele mesmo dia sentira a grandeza de um céu inexpressivo. Mas incrivelmente definido.
Só guardado na memória com tentativa sucessiva de expressão; que alongaria o período de sua inspiração.
E aos poucos, se aconchegara nas próprias angústias e desejos, a tanto tempo guardadas ou ainda renovadas pelos mesmos medos - não estava estagnada, mas se sabia consentida.

Aqueles olhos que hoje parecendo tão mais belos fugiam da contemplação demasiada, do corpo instrumento de um esforço que de obrigatório parassara à involuntário, e ela passou a (ao menos naquele meio tempo) sentir-lhe na polpa, nem que fosse sofrimento.

Talvez muito pura, ou usada demais.

Ela permanecia numa embalagem identificada pelos seus atos.
Então soltara seus cabelos e levantara sem medo de ser ou manter. Tinha muito o que fazer, era muito pra se proclamar num só pronome, ou definir-se nos extremos de seu linguajar.


E isso era visto em cada pétala que aos ares de seus movimentos embalavam... naquele terreno, naquele aconchego, imperceptível, ou plenamente sensível, à almas que destinavam-se a libertação.
Não importava os hábitos conceituados ou música repetitiva - ao menos ali na sua insatisfação amava.
E era dela, de tão dela que não era nenhum pouco difícil, ser sua.


"Amar é mudar a alma de casa."
Imagem por Amélia Vinhal

Não houve necessidade

Dando crédito à velha confiança no tempo
Acabei pisando no destino.
Agora talvez haja mais crença, não pratico mais (tanto) o eu-lírico.
Não houve o por quê do iniciar das reticências, que ao se transformarem com este segundo ponto corrido, cancelo já sua permanência na displicência da espera, logo à seguir formando matéria.
Não houve porque considerar o tempo, mas do mesmo jeito há a relatividade de resposta e questão, agora que não é mais só minha; portanto usufrua deste - também é obra de suas mãos.
E não há porque suspeitar, qualquer semelhança não é mera coincidência.

Bem-vindo ao seu espelho alheio!
.



Não houve necessidade, mas porque não um devaneio?

terça-feira, 19 de junho de 2007

Um tempo, por favor.

Sem pêndulos conceituais...
só mais um pouco de inspiração na percepção escrita.
Seja o que for... só espere se for de seu interesse.
Sem, grosseria também, é só um preparo pra um salto de amor.
(Ou o nome que quiseres...)

Ficamos então no tempo.
Por favor?!