terça-feira, 23 de junho de 2009

Íris

O olho está cansado de olhar o espaço e ver demasiada a falta daquilo que não está.

Ilustração por Luna

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cantatrice

Para compôr a estrela dessa luz toda, sem utilizar teus dedos a complementarem a força de minhas mãos, vou te pôr nas palavras ao vento jogadas todas as vezes que sussurrei juras ao teu nome em solidão, eu sei que chegam rajadas aos teus cabelos, nestas noites tão frias em que teu corpo é todo o acalento de uma alma que não se saceia, e não vai ao teu encontro.
Eu te vi passar de longe, e notei a sintonia de teus movimentos tão desequilibradas na tua velocidade e a minha lentidão, porque foi tão vazia a conversa alheia a disfarçar que eu te esperava - mas sem saber, que iria te ver partir antes de me tomar; daí que arrebatastes o meu tempo pra contabilizar noites e dias, tampouco tempo pra passar e não dissipar que eu quero te dizer, te cantar, te vibrar nesse amor de pouco gozo e muito tremor...
Teu corpo me fere de tuas lonjuras, alcanças-me distante e eu te entendo estrela, de um céu, um céu que está entalado na minha boca - e a garganta que não pode ser tão profunda te profere, num silêncio que só a alma de anjo saberá decifrar.
E assim é raro o encanto de te compreender! tu lá longe, tu tão inspirador, tu tão latente em mim me faz observar que nesta estação,
a fumaça que exala de tua boca é expressão do tempo que se encaminha - e sei que, todo espaço é céu quando sopras.

domingo, 14 de junho de 2009

Ondas monumentais

Ela voltou pra casa sentindo o frio causando calafrios nas suas mãos ainda que cobertas por luvas - cada dia sentia mais.
Fechou a porta e aconchegou-se na potrona, observando o espaço, procurando o lar naquele lugar. E os olhos pousaram sob a estante, o cd das músicas que ele fizera estava lá - então ele voltou. Mas não permaneceu. Apenas o cd. O cd com suas canções para fazer etéreas as lembranças do frio, do tempo, do vento, do dia sem bilhetes e sem amor pra consumir nos braços; sem amor pra entender o gosto do frio queimando a língua assim que de nós sai vapor. A falta pra consumir o silêncio sem risadas, a cama desarrumada e o cheiro de mofo daquilo que se usa só pra condenar o tempo que nunca passa no que é comunal.
A rotina lhe doeu tanto que só pôde chorar. Só chorar e sentir a lágrima secar, a ponta do nariz ficar gélida, a mão ainda mais estática. Não tocou, só olhou pra lá. Já não quer mais frio. Não aguenta mais intensificar o tom. Não é a dor da estação, mas é a falta de uma presença.

O frio lhe deixa quente por dentro. Por dentro a latência lhe responde que a vida é puro foco de luz, cadente estrela - um tombo pra riscar a atmosfera com seu próprio tamanho e transfigurar a verdade pra realidade.
Afinal, se em tudo o que faz é só lembrar e viver por isso que consiste, não é vazio, e não haverá vácuo para consumir essa história toda se o que sempre volta, é o som.

sábado, 13 de junho de 2009

Terremoto

Uma folha aberta, um coração pulsando rápido demais para tornar-se plausível em gráficos caligráficos.
É tudo para um mundo estranho e ruim, que traz agonia na palidez de um campo vasto com mãos pequenas que querem muito dizer aquilo que a cala.

Aquilo que está explodindo de dentro, cheia de fragmentos mundo a fora: mas nenhum encontro.

Nenhum rastro que ainda que pegasse caminhos alternativos e colocasse seu olhar aonde normalmente não há colírio, estava lá. Porque necessariamente esse encontro não seria de alívio, mas tornou-se uma necessidade. Nada obsessivo, necessidade mesmo - assim como quando a boca sedenta se atrapalha nos próprios movimentos quando sente a água a purificar as vias de vida plena: toda e completamente estava jorrando, querendo um leito para seu manancial - e ele é a encosta.

É mas não está. Ela corre, mas ele é horizonte distante.
A loucura não se aproxima, mas o desespero toma conta. Não tem pra onde fugir. Sorrisos causam boas-vindas,
ela só quer sumir.
Um terremoto urgindo sob seus pés calmos na rua vazia. Vazia demais pra alguém ver o tamanho dessa dor, entender que é mesmo amor.

E nenhum sorriso, nenhum passo, gentileza, conforto, desagregação de conteúdo faz o coração parar e nem o vocabulário se dissolver. Lá fora é frio e o vento não surge para levar a folha embora; até porque a impressão é muito mais que cisco para o espaço - é um risco tão profundo que a epiderme responde encolhendo-se no arrepio, como flor na terra pra nascer.

Terremotos em limiares tão sublimes que o instante das próprias horas não se revelou na própria falta. É a fenda da parte de dentro.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Do mais profundo, ela que disse:




Eu quero fazer teu bolo de aniversário, e te cantar com um sorriso
nos lábios tão imenso quanto meu amor,
tamanha plenitude é todo coração.


Mon petit.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Contaminação Urbana

''O tempo que faz sintonia entre teus cabelos,
afina os caminhos tocando trilhas
que na minha cabeça,
gira, gira, gira...

Assopra a vida e tudo vira, música...''


Mais?!
:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

sentidos devoram lógicas

beber
vou engolir quantos litros mais de desilusão pra deixar o tempo passar
e doer mais um pouco a tua falta que nem mesmo faz com que a tua ausênca esteja aqui?
tu sumiu e teu pensamento sempre volta
notícias... és deveras parte do meu mundo, -não te partas!
+
sentir
sozinho .....mais ........quero
............não......... estar
+
engolir
esta noite maldita me faz rasgar o remedo desses últimos dias de alento estranho,
estágio de esquecer pra improvisar o suicídio do meu vital
+
deglutir
eu não quero
assim que eu te desejo
eu desejo que acabe
o que machuca
e não o que quero.
_____________________________________

é tu que me falta, nesta conta toda.

produto final: noite sem estrelas. e eu cega... cega da tua luz?

domingo, 7 de junho de 2009

Muito além de todo o mais

Um corpo estirado a frente do outro.
No caminho aonde braços se encontram. E as mãos deslizam perenes a descobrir que o calor é suspiro para o poro arrepiado de frio,
assim o carinho faz intenção.
E resguarda a proximidade como o instante propício para encontrar olhares, desviar adiamentos.
Abaixam-se de novo os olhos, movem-se lábios. E insistentes, sorrisos se cruzam com um leve estalido de lábios surgindo para o parto do riso de que sabe-se sem dizer, à beira do silêncio do frio a acalentar o encorajamento para viver.

Tantos riscos emaranhando-se nos cabelos entre os dedos, as mãos encarregadas de contar essa história que ocorreu com tamanha precisão ao tocar a frente do corpo e enovelar-se profundo em cada sensação pra degustar do todo, a prosseguir, tentar dizer.

Suspiros e encontros; encaixam-se na boca com as linhas decorrentes na formação do corpo,
saciando a vontade com a curiosidade de devorar os sentidos na brutalidade da matéria,
transformando o nu em visão de diamante.
E percorre, pra não esquecer; uma vez de tantos instantes pra dizer com cuidado
que o prazer é um novo sorriso guardado no abraço de tão mais carinho que o corpo
expele no seu leito, jorrando a satisfação, brindando a boca que sorri tão grata
por não precisar dizer o que se degusta muito além de todo o mais...

Não decorre para o fim, parte o tempo pra convir
com a realidade paralela de sentir que o provar
é a confiança de estar, liberta de correntes
para aprender a preservar;
provas entre meios, entre seres que somos nós.