quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mais um causo eólico


Uma menina sonhava que tinha um tempo de viver,
instante só seu.
Como nasce uma flor no jardim,
ou se dá nome ao sentimento no peito...

Mas, como?
Desde há muito as flores existem
e são mudas, como a vanidade
que os sentimentos não consomem
É como se nada tivesse nome,
tudo se misturara
e ao vento,
um encontro, um disparo:

transformou-se a vida de um poema

Sem término de vibrar,
mas começo de transferir
- uma menina aos olhos múltiplos de sentir.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Estranhos no espelho


Ela o vira encostado na mesa de sinuca, com outros completando o espaço com o sorriso de agrado, entre a fumaça dos cigarros de vícios alheios a sua virtude de simpatizar com o adverso - uma figura de batidas crescentes entre a música e as observações ditas altas aos ouvidos, tantas falações...

e do que se dirá no próximo silêncio?

(...)

Ela chega percorrendo o espaço com seus passos insinuosos, acompanhando a música que há tempos se resguarda nas intenções, e não tão-somente nos movimentos. Estava lá, preenchendo o concreto cru de cimento, as paredes vermelhas e as luzes reluzentes, em seu vestido negro, agora entrecortado por todos os elementos descritos. Por quem incorporou o som como respirar, embala-se...

É um desperdício até, invade a mente. Minutos passados de todo o expurgar de sua mente para aquele sentido, que transgrediu tantas compreensões e a faz neste momento – não tão somente bailar, mas esboçar no sorriso final um desespero pela simpatia de controlar o agradável, tentando permitir sempre, o encontro com mais seres desencadeados de si, no turbilhão dos outros.

A busca por divertir-se sem entreter de fato o responsável por isso faz com que se deixe esquecer, de sentidos de cuidado e aguçar o contato deixando entrar na boca o anestésico da razão, a desculpa perfeita para o desequilíbrio.

E queima a língua, e dela faz tapete para despudores e instigares de olhares que já lhe acompanhavam, degustando através de uma linha tênue, o limiar da fome, seduz um conjunto, mas não quer saber do todo.

Acima de todas as vergonhas é charme explícito pra quem no mesmo salto, depois, na queda da cama vai usá-la e deixar mais um sorriso, e um conseqüente cansaço do corpo para a barreira que lhe foi arremessada,sem sequer apontar motivos. E daí, o sono. E o encontro com o feitio e a aceitação de igual imaginar 



E depois da aurora, o silêncio. E o despertar vira realidade, solavancos na cabeça para arremessar o peso do que lhe abateu naquela noite como cócegas, mediante tantos sorrisos. Andou cambaleando até a porta do quarto, procurou interruptor para a luz, mas antes de enxergar, a luz do sol lhe veio aos olhos e este desconforto já lhe trouxe consciência de horas, e um desconcerto ao olhar o espelho: ninguém lhe dissera que não ficava mais atraente longe de si mesma.

Mais uma côrte, refinada de reinar intensidade sob seus passos fez entender que o tapete verde estendido para os corpos estirarem seu cansaço são vermelhos assim que as línguas se estendem, assim que as falas fazem a chegada da realidade do ser embutido em chegadas e partidas, até a próxima chegada. 

Eles conseguem.

Mas ela sabe que não tem como, usar a lua como cápsula de morfina. A boca tem um céu particular. E no seu pequeno infinito, ele é a estrela cadente que foi tão, mas tão adentro, que o coração é sempre cálido; e agitado, tão agitado, que nem a noite na sua eternidade, aprendeu a agüentar...