quinta-feira, 19 de julho de 2007

EVidências

Acordou aturbulado por uma sensação prolongada de seu sonho, aquilo que era ''bom demais para ser verdade''. Porém, nunca fôra muito crente nessas expressões generalizadas, e enquanto aos sonhos, deixava sua ignorância declarada - num acentuar de conhecimento vago.
Depois dos atos quase reflexos do despertar para um dia, calçou, andou, escovou, derramou, sentou, encheu, passou, mordeu, pensou. E sentiu.
Querendo ou não, a fragmentação do significado dos sonhos ficava na sua cabeça como qualquer curiosidade que se espera ser explicada por alguma ciência conformativa. Mas se infiltrava bem na mente... não dava grandes créditos à astrologia, magias; sabia que existia, e acreditava no que poderia. Talvez com aparência oportunista, mas sensibilizava cada fato pela sua percepção.
Aquela sensação do quase real fixou um dèja vú, e todas as probabilidades que lhe poderia; mas novamente não era fato e ele descartou previamente. Prosseguiu nos atos e levantou, depositou, lavou, procurou, usou, arrumou e saiu.
Fez ao longo da longevidade da duração da sua obrigação meio desgastada. Quando pôde, avistou na janela cada elemento que nos frizos das horas marcadas distribuía com sol, pessoas, movimentos, reflexão quase atos do feitio que realizaria. E realizou.
Ainda fixado no pensamento comum de involuntariamente perceber que à cada telha, sapato, vitória-régia, ser existente, ele enxergaria uma ponta vitalícia que escapava pelo meio das mãos de outros ser sobreviventes que não se importando, provocavam sua própria degradação.
Sim, ele sentia muito pelos redores, e pela suas forma de andar, vestir, à muitos era frieza pré-conceituada. Mas não se iludia em receber o que queria, auto-conversão era uma etapa tão necessária quanto suas refeições. Nos livros, discos e palavras que derramava no papel, que contornava na fumaça do cigarro, que desgraçava nos seus vícios.
Em passadas calmas em meio ao crepúsculo apoiado a sua localização, em mais uma etapa da vivência diária, sentiu um perfume delicioso, encantador, sedutor na forma material imoral que seus pensamentos fantasiavam na sensibilidade calada pelas sinfonias populares. Ali então se importou. Circulou os ares ao olhar, em busca da fonte dessa perfeição. Mas nada avistou que pudesse ser tal progenitor. Encantou, mas perdeu. Ficou, restou, suas reticências à imaginação perseverante confirmou... mas continuou.
Titubeou, e num outro terço do relógio e seus atos cronometrados, estava num banco, à espera de nova feição, pelo atraso da hora, atraso dos atos que ainda pensava que atrasavam os anseios de todo o ciclo quando se regravam. Mas a difusão de idéias estava à peito aberto na espera da palavra certa pra lho dizer.... numa bolha colorida o suficiente pra formar arco-irís de sensações à miscelância da leitura. Lembrou daquele perfume. Mas não pulsaria a paixão por mais forte platonice que ele cultivava.
Porém desviou com golpes de pincel da alma amante da figura artística para às formações livres na compenetração letrista em estradas infinitas... E desviou seus olhos trazendo nova atenção, destituida de pretenção.
E então houve a queda da estrela do céu que hoje não a abrigou... num relance de vista, numa passagem personificada, largou a indigência de seus sonhos e pesares naquela matéria avistada...

Olhos bem delineados, como pérolas contornadas por traços pretos em ressalto à estética priorizada. Tinha um olhar majestoso que se ondulava aos deslizes de vem-e-volta que o ar ao passo dava à seus cabelos; e o perfume que não dela sentiu, era aquele aroma tão agradável que então quase gosto fez à sua boca - o mesmo pela tarde, aonde ele - como ela, ali - apenas caminhava. Se doce estava como o amor, é porque o gosto já existia. Mesmo na figura desalinhada, capricho que melhoraria na promessa interna re-feita todos os dias, as contradições que se impunha, os sorrisos solitários, e vida compartilhada sempre que tenuamente abrigava em tudo que existia - aí provando que não precisaria crer pra ser.
Teve a impressão de o agora ter deslizado ao aqui, num capricho improvável de que significados comuns eram fardos de momentos perdidos sem entendimento.
Naquele instante, o sentido fez fato, como o desabrochar de uma flor no marco de uma estação.
E alongou os sentidos na pureza do que resguardava, numa metáfora do que ali viu.

Soltando aqueles cabelos na medida da beleza que posicionaria à paisagem tecida nas ondas caóticas da sensibilidade aflorada, textura da saia, do movimento dos braços, numa moldura frágil da imaginação pintada pelos seus segredos, 'mil segredos delicados'...
Lambendo os lábios de contemplação despertada para ação, pôde ver junção nas marcas finas de seu dia.
Era um ressalto pequeno da grandeza que ele não pudera segurar consigo. Sorrira internamente sem precisar guardar desejos realizaveis. O gosto daquele pêlo, daquela harmonia que sintonizaria na devida voz aos quatro cantos, eram as aparências de cada passo e as dobras da folha em branco... Faria desse instante o pouco eterno de inspiração sem comando guardado.
Poderia nunca mais a ver, mas poderia eternamente num segredo evidenciado em cada ladrilho que ela pisar, ser.
Ali foi tracejada, uma forma pro destino. Ainda que dissipada, por cada novo domínio, era e então ele crêra.

Aí sairam os termos e ele compreendeu que a generalização era a sensibilidade oculta em cada sílaba não-dita da palavra realmente consumida.
Na evidente auto-censura da própria percepção.

Imagem por Amélia Vinhal

3 comentários:

R., R., Rosa disse...

Ainda bem que nesse país é possível ao menos se emocionar.

Lindo demais...

:*****

Mariana Pacheco ♥↔♥ disse...

concordo com o cara de cima

;**

lindo, Clau =p

beijoss

Mari :D

Home Made Brownies disse...

Naaabooooooo!

fiz uma foto lindaaa do pepino-clé hahah

tu tem q ver

=p

;***