quinta-feira, 21 de junho de 2007

Sinal

Então na rua. Cercada por prédios. Tráfego de carros. Seres dominados pelo espaço.
Pisando no meio-fio.
Aquele meio-fio.
Diria meia passagem, o começo de um esboço. O sustento de sua espera.
Talvez estivesse exagerando, mas é essa a sua situação.
Condenada pelo movimento dos pensamentos que não acompanhava seu ritmo, ao redor lhe olhavam se não indiferente, curiosos.
Mas era apenas um cabelo amarrado de um jeito qualquer, uma bolsa de lado e uma moça que espera como todos ali naquele lugar.
Bem, se soubéssemos tanto assim dos outros, talvez não teria porque sempre se questionar dos mesmos.



Mas já estava acostumada.
Os segundos infinitos em definições se passavam compactados nos minutos que ela ficava na espera pelo sinal.
Não que estivesse desnorteada, mas esse lhe daria um fluxo mais retilíneo.
E aquela espera não gerava nenhuma expectativa, afinal ela fazia esse trajeto todos os dias.
Quase sabia dos mesmos movimentos. Mas tem dias em que um significado muda perante a ação ocorrida. Seria talvez o princípio de busca que ela buscava e não sabia.
Ela só queira mesmo aquele sinal.

Mas ao mesmo tempo receava por ele.
O adiante era indubitavelmente incerto...tá, tudo bem, o cotidiano era quase sempre igual, mas nunca se deixaria as possibilidades de lado. Nunca se sabe de nada nesse mundo recheado de tudo.
Ela rira sozinha....esses paradoxos loucos a deixavam quase na mesma realidade.

E olha que só queria um sinal.

Quando chegou estava amarelo, não deu tempo suficiente e a espera se alongou.
Saira atrasada tentando adiar um pouco, pra ver se conseguiria mudar, tomar mais segurança.
Sabe, não se precipitar, ser rude e pisar naquilo que não queria tirar vida.
Por isso sempre cuidava quando andava nas ruas...Não olhava tanto pra baixo em função de desânimo ou daquela busca cretina por moedas perdidas. Talvez nem percebesse.
Preferiria zelar um pouco pela vida, nem que fosse das plantas. Mania esquisita, mas os próprios homens não faziam este.
Às vezes se questionava, mas era rápido, talvez não fosse a hora certa de mudar.
Claro! Já estava na hora de sair...

Por isso talvez o cabelo desrrumado e tudo soando estranho mesmo proferindo os mesmos cumprimentos e todos a sabendo - quando a viam.
Bem que poderia ela se condenar por tudo o que se passava. Os outros não conseguem apontar o que sente-se; invocá-los nessa hora poderia ser uma boa escapatória.
''Ah! Mas que ridículo!''
Essa filosofia de botequim....bem, estava perto de um. Hum....deixa a realidade deles pra outro sinal.

Oras, mas que sinal?
Ela já se perdera nas trilhas avoadas de seu pensamento.
E aquela insegurança se concretizou numa faixa à frente.
Viu que poderia ser segura, e que vultos seguros por ela passavam.
Mesmo na metade do fio, no começo do contorno, do outro lado tinha continuação.
E ela estava na espera da cor vermelha - era lendariamente amor.
Sabia disso, esperava o verde.
Verde = Ciúme? Poxa, era isso o que lhe atrasara, lhe aturbilhara e fizera passar uma possível borracha na linha contínua de seus feitos e segurança.
Mas o mesmo fará ela caminhar à frente, afinal, pode superar.
Naquele outro meio-fio, no outro ser pensante que se intercala com a segurança e os sinais.
Seus significados são nossos.

Não lhe interessa o cabelo desarrumado.
A bolsa só tinha bagagem que enfeitara o cenário que ela figurava ali.
Mas olhou adiante e deu um sorriso. O sinal estava verde.
Já podia passar...E ir antes que o vermelho do amor lhe paralizasse outra vez.
Se estava adiante e mesmo insegura, é porque andara.
O túnel do tempo dá ilusão. Mas a sinaleira até que auxilia na condução.


Imagem de Amélia Vinhal.

Um comentário:

R., R., Rosa disse...

Esplêndido e com uns errinhos tolos de gramática, mas isso não ve ao caso, (6)...
até porque errar é humano e eu nem isso sou..

Esse espaço lhe faz mais suave e clara, estás conseguindo te desvendar melhor enquanto te olhas por fora, porque de dentro pra fora, parecia que a mente te impedia um pouco de te entregar pra visão externa e deixava o interna se expandir e não se exteriorizar, entende.

Curti muito e acho que tu não vai mais precisar de mim pra roteirista. Olha isso, obra de arte nº 98468113 :**