quarta-feira, 4 de junho de 2008

Coexistência

Deu o poder de suas mãos ao vento, que soprava-lhe baixinho aos ouvidos, desejos de insanidade - (que) consumiam-na cada vez mais. A brisa de uma madrugada fria revelava-lhe idêntica submissão das aparências a sua verdadeira natureza, os dias passando ao tempo, idêntico passamento. Os entorces de uma vida caminhavam lentos, distraindo-se nas fábulas do que não lhes era possível, sonhando no sentido de buscar e saber-voar -
decaíram-se no chão sedento de suas lágrimas, aonde brotando angústias, ela erguia-se para de igual a igual encará-los (tentanto constante), sobreviver.
Caminhando pelas horas súbitas de buscar uma nova distinção sua existência, deparou-se serena a questionar seu derradeiro permanecer, sentindo-se cada vez mais clara no confuso, matéria sublime pouco vista, talvez nada. E tomou sua pergunta por resposta, caminhando ao meio de sua entrega cheia de verdades, cheio de sua corrente intimidade.

Vestida com os trajes de plena celebração, colocando agulhas a equilibrarem seus pés, gerando de seus passos o compasso definitivo; seus rastros únicos, sua escuridão deixada para trás quando levaria o mundo todo num salto livre, no fim de todos os seus princípios.
Posta aos instantes finais de seu destino, espalhou por seu carro caixas de sapatos, seus passos extintos não lhe prenderiam mais em qualquer rastro, não felicitariam nem agoniariam.
Pôs seus pés a neutralidade do ar que buscava decisivo, recrutando-se ao novo caminho, olhando pra trás apenas num aviso com as últimas palavras do mundo que empurrou-lhe;
deixando e despedindo.
Cambaleou uma ou duas vezes, e num salto, num suspiro se entregou: as marítimas correntes enlaçaram-lhe. Suas poucas voltas à superfície demonstraram a resistência inata de estar vivo, mas a disposição de tudo, suas vontades e seus sentidos, deixaram-lhe.

Um corpo sem razão a vaguear, até encontrarem-na flutuando com o ar denso, com o corpo desgastado; mas com seu curso completo pela ânsia de um novo nascimento -
quando o nada apareceu-lhe como tudo.

3 comentários:

Adrielly Soares disse...

Li duas vezes. Você tem um jeito sutil de dizer o que quer dizer. Eu queria saber fazer. :)

"Posta aos instantes finais de seu destino, espalhou por seu carro caixas de sapatos, seus passos extintos não lhe prenderiam mais em qualquer rastro... "

adorei.
;*

Anônimo disse...

Lindo texto, parabéns!

Adorei o duplo sentido do seu comentário. Seja bem vinda ao meu espaço, volte sempre que puder e quiser.

Beijos.

O Profeta disse...

Hoje o Mar adormeceu na Aurora
O dia desponta em doce calmaria
Um barco cede ao embalo do vento
Uma gaivota na escarpa o ninho vigia

Hoje o Sol pintou de luz o verde
As hortênsias são nuvens na terra
Plantadas por um deus romântico
No sortilégio que esta ilha encerra


Bom fim de semana


Mágico beijo