quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Na forma do movimento

Caminhando pelo trajeto habitual de suas noites, passava pelo caminho observando à sua movimentação o brilho refletido na matéria que pisava, das pedras alinhadas debaixo de seus pés.
Amolestada por reflexões ora desordenadas, ora em firmes estacadas, contribuía para dorir o espectro ocupacional de sua noite. Ela passeava os olhos para o encontro do significado, e no momento, para o entendimento tecelão do sopro das palavras, do poderia da confecção quase personificada na haste do vocábulo.

Era de seu corpo que demonstrava a matéria de sua razão, numa moldura clara e simples é aquilo que se vê. Porém tão condicionada a olhos concretos, urbanos, intimidava-se com ombros contraídos. Para sua busca interna com pés, por entre o chão...
Explanava ainda da matéria mais delicada e frágil que parte do ponto interno de si mesma; de dentro para fora, da matéria para a palavra, do sentido pra significação.
Induzida por seus próprios vícios, no cansaço procurava virtudes, e por hora cansava-se da própria busca e afundava-se em tortuosidades da barreira de não apenas existir.
Cansa-se misturando o presente a passado, imperfeiçoando qualquer futuro, exprimindo o avesso do confuso, da linguagem, para aproximação d'outra camada.
Longe da epiderme do comunal em saudade, em vagarosidade, procurava apenas (des)conter-se nas idéias remetentes de tato, ainda como a veste dos olhos cristalizados, no palpável rosto banhado, na sentença de uma voz da bagagem de uma fotografia; na ânsia da vagarosidade, produzia saudade, com outra vocação.
Utopicamente objetava-se a encontrar nos caminhos decorados de seu lar e das cotidianidades enfileiradas, um pingo de demonstração palpitante à ilusão derrotada pela vontade de alguma simbolização nascida do espírito; da fome de quem clama por perseverança, do ócio de quem balança no pêndulo do tempo, e na divagação do incomum no metal das antenas, no risco das jóias.

E para quando seus suspiros embalsamaram suas idéias, o arranjo de sua cortina fechou a fronte da partida, com a fachada escura do quarto que a abrigava, deixando uma fina tarja sépia, dentre a escuridão da noite e seus mantos.
Ou adormecera, ou forçara com suas mãos qualquer movimento que praticasse a luz para sua ''trajetual'' significação.


Imagem por Amélia Vinhal

2 comentários:

Rain disse...

A linguagem pode levar-nos ao infinito...

Bjos

Unknown disse...

Oi Claudinha...
Tudo bem?
Vim retribuir a visita e te conhecer....
Hoje estou sem força spara ler os posts...nem vou me atraver a comentar nada...
Mas, te espero por lá...sinta-se bem vinda em meu mundo de limpezas internas e externas...
beijo
dfaxina